As Estratégias Usadas no Dia D

Estratégia Aliada

Primeiro podemos analisar o motivo para atacar a Normandia e não o Passo de Calais (Estreito de Dover, para os ingleses), que seria o local mais lógico, pois é o de menor distância entre os países (aproximadamente 20 milhas contra 100 milhas para a Normandia). E foi por onde os ingleses fugiram em junho de 1941 na fuga de Dunquerque. E justamente por ser o local mais lógico e onde os alemães estavam esperando e tinham a melhor defesa preparada. As praias da Normandia não eram ideais mas era onde se encontrava menor concentração de defesas alemãs.

Roosevelt comunicou ao General Eisenhower, no inicio de dezembro de 1943, que ele seria o comandante da invasão a Europa. Eisenhower nomeou como seu segundo o Marechal-do-ar Tedder e queria para comandar as forças britânicas o General Alexander, mas este foi vetado pelo seu importante trabalho na África do Norte. Finalmente foi escolhido o General Montgomery. O Tenente-General Walter Bedell foi nomeado chefe do estado maior. Para o comando das tropas de desembarque, foram escolhidos os Generais Dempsey para as tropas inglesas e Bradley para as tropas americanas. Contudo para manter as aparências de uma invasão em Calais, o comando aliado criou um exército fantasma o 14º Exército, sob o comando do General George Patton, que era composto de 2 corpos, uma divisão blindada, 5 divisões aerotransportadas, 14 divisões de infantaria. A operação tinha o nome código de “Operação Quicksilver”. Foram usados agentes duplos, alto trafico de radio, tudo isso para manter os alemães acreditando no desembarque em Calais.

Após o fracassado ataque contra Dieppe, realizado por britânicos e canadenses, verificou-se que a estratégia ideal não era atacar portos ou fortificações e sim áreas abertas e também a necessidade de apoio concentrado de fogo dos navios e da aviação, principalmente nos primeiros momentos do desembarque. Calculou-se que seriam necessárias 29 divisões, aproximadamente 300.000 soldados, e para estas serem transportadas seriam necessários pelo menos 4.000 barcos. Para a força aérea, seriam necessários 11.000 aviões entre britânicos e americanos e para as tropas aerotransportadas pelo menos mais 2.700 planadores. Não esquecendo que no dia do desembarque, junto com as tropas precisariam ser desembarcados 54.000 veículos e 4.600 toneladas de abastecimentos. Como estava previsto a tomada do porto de Cherburg apenas após 14 dias do desembarque, foram planejados portos artificiais que seriam montados nas praias após o desembarque.

O ataque era para ser realizado no dia 5 de junho, porem o mau tempo vinha se arrastando desde o começo do mês e a previsão era para uma melhora no dia 6. Eisenhower que tinha a palavra final estava com muitos receios, pois se previa nova virada do tempo para o dia 7. Caso fosse adiada a data, seriam necessários pelo menos 2 semanas para uma nova tentativa, e isso era um problema, pois como guardar um segredo com 140.000 homens sabendo? Então na madrugada do dia 5, Eisenhower decidiu que a invasão ocorreria no dia 6. Porém o mal tempo acabou ajudando na questão de sua surpresa, pois os alemães achavam que não haveria ataque com mau tempo. Na realidade o desembarque dependia basicamente da maré.

Como se decidira abastecer as forças americanas que combatiam na Europa diretamente dos portos americanos, as tropas dos EUA foram designadas para o flanco direito das operações. Deviam tomar Cherburgo e os portos bretões como bases de abastecimentos, enquanto as forças britânicas, avançando para o leste e o norte, ao longo da costa, deveriam tomar os portos sobre o Canal, chegando ao norte, até Amberes; através destes últimos portos, seriam abastecidas diretamente da Inglaterra.

No flanco direito, forças americanas do 1o Exército, do General Bradley, deviam assaltar a praia Varreville (Utah) e a praia Saint Laurent (Omaha). O 7o Corpo do General Collins devia participar, com a 4a Divisão de Infantaria, do assalto contra a praia Utah, justamente ao norte do estuário do Vire. Durante os primeiras horas da manhã do Dia D, a 82a e a 101a Divisões Aerotransportadas seriam lançadas sobre o setor oeste e sudeste de Sainte-MèreEglise, onde sua, missão consistiria em capturar as pontes sobre o rio Merderet, obter o linha do rio Douve como barreira, e apoiar o desembarque da 4ª Divisão de Infantaria na praia. Esperava-se que, ao final do Dia D, o 7º Corpo, com as divisões aerotransportadas sob o seu comando, controlaria a zona a leste do rio Merderet, desde o sul de Montebourgo até o Douve. O 5º Corpo do General Gerow planejou o seu ataque a uma extensão de praia de 7.000 metros, conhecida com o nome-código de Omaha, sobre a costa norte de Calvados, perto de Saint Laurent. Uma equipe de combate da 29ª Divisão de Infantaria à direita, e uma equipe de combate da 1ª Divisão de Infantaria à esquerda, ambas sob o comando da 1ª Divisão de Infantaria, deviam atacar na leva inicial.

O plano de apoio aéreo foi criado pelo Marechal Leigh-Mallory, e era composto por duas fases. Uma preparatória, com alvos como pontes, aeródromos, baterias costeiras, estações de radar e alvos navais e militares próximos à zona de desembarque. Para isso seriam usados 2.434 caças e bombardeiros. Os ataques deveriam começar dois meses antes da data do ataque, porem perto da data final, os ataques foram intensificados, tentando não denunciar o objetivo. Já a segunda fase, no dia do desembarque, deveria ser mantida uma densidade de pelo menos dez esquadrilhas para cobrir a área da praia, cinco para os americanos e cinco para os britânicos e mais seis em prontidão.

As forças navais de ataque e proteção compreendiam um total de 8 encouraçados, 22 cruzadores, 93 destróieres, 229 escoltas de comboio de todo tipo, 200 caça-minas, 360 lanchas a motor, 4.222 navios de desembarque de diversos tipos; ao todo seriam 5.134 barcos a intervir no operação. Esta força tinha contra ela 3 destróieres, 4 torpedeiros, 36 lanchas rápidas, 37 submarinos e perto de 50 embarcações auxiliares, que era o que dispunham os alemães na área.

Estratégia do Eixo

Os Aliados não fizeram segredo de sua intenção de invadir a Europa, e já em 1942 havia uma forte e infundada pressão exigindo “uma segunda frente agora!”. A simpatia pelos soviéticos e a completa ignorância do despreparo dos Aliados contribuíram para esses rumores. Argumentava-se que o ataque deveria ser lançado no verão de 1943, mas poucos ou nenhum dos homens que ocupavam posições de responsabilidade no lado aliado era de tal opinião na época. Os alemães tiveram quase quatro anos para preparar suas defesas antes do assalto aliado ser desfechado.

A tarefa coube ao Marechal-de-Campo Karl Rudolf Gerd Von Rundstedt, que em março de 1942 foi pela segunda vez chamado do seu retiro e nomeado Comandante-em-Chefe no Oeste. Suas atribuições incluíam a defesa da França, Bélgica e Holanda, países que se esperava que os Aliados lançassem seu ataque. Rundestedt reportava-se diretamente ao Führer.

Na diretriz nº 40, de 23 de março de 1942, Hitler expôs a política defensiva pela qual pretendia rechaçar qualquer ataque aliado. Áreas fortificadas teriam que ser preparadas nos setores costeiros expostos a desembarque, devendo as reservas ficarem prontas para o contra-ataque. Estabelecia que “as forças inimigas desembarcadas deveriam ser destruídas ou rechaçadas para o mar em contra ataque imediato”.

Logo depois que Von Rundstedt assumiu o comando, a 28 de março, os ingleses realizaram uma enérgica incursão a Saint Nazaire. O enorme dique dessa base naval foi destruído, e Hitler, enfurecido, ordenou a construção de defesas costeiras ainda mais formidáveis. Os resultados da fracassada incursão inglesa e canadense a Dieppe em 19 de agosto confirmaram a boa opinião do Führer sobre o valor dessas fortificações.

Von Rundstedt, por sua vez, acreditava na estratégia mais convencional de uma forte massa à retaguarda, fora do alcance da artilharia naval inimiga, mas capaz de lançar um contra-ataque maciço contra as primeiras cabeças-de-praia aliadas. Esse Feldmarschall era o exemplo supremo do general ortodoxo da Escola Prussiana. Embora um pouco antiquado, a ele deve ser creditada a queda da França, na blitzkrieg de 1940. Daí seguiu para a União Soviética, mas uma crítica mais severa à estratégia do Führer ocasionou sua substituição. Era muito respeitado pelo corpo de oficiais alemães, o que muito ajudou em seu relacionamento com Hitler. Ele tinha um baixo conceito deste último, mas possuía também o bom senso de ocultá-lo. Seu novo cargo trouxe-lhe algumas compensações, como gozar de uma vida civilizada no quartel-general no Chateau de Saint Germain, a cavaleiro do Sena.

Sua tarefa, ele a descrevia assim:

“Eu tinha que cobrir mais de 3.000 milhas de costa da fronteira italiana, ao sul, à fronteira alemã, ao norte e apenas 60 divisões para defendê-las. A maioria delas eram divisões de graduação inferior e algumas delas não passavam de esqueletos”.

Pois bem, durante todo o ano de 1942, a França fora utilizada como área de repouso para as divisões seriamente castigadas na Frente Oriental. As 50 ou 60 divisões continuamente disponíveis “no papel”, mal produziriam 25 divisões de qualidade razoável, e sem o seu poderio total. A utilização de prisioneiros de guerra como soldados, em vez de exterminá-los ou deixá-los apodrecendo nos campos, criou uma situação completa, mas aliviou a pressão cada vez maior sobre o potencial humano alemão.

Em 1942, batalhões estrangeiros estavam sendo convocados para as divisões alemãs e o major americano Milton Shulman observou que em um regimento alemão havia nada menos do que 8 tipos de diferentes cadernetas militares em uso, abrangendo pelo menos umas 20 tribos orientais. O historiador G. A. Harrinson afirma que em 1944, na França, havia soldados de 26 nacionalidades diferentes lutando com o uniforme alemão. Essa mistura de raças, comandada por oficiais alemães, compunha pelo menos 10 por cento dos efetivos de muitas divisões, e até 25 por cento algumas.

Mas mesmo com 50 ou 60 divisões da mais alta qualidade, como Rundstedt constatou, teriam, que ser esticadas a mais de um décuplo do normal, em 5.000 km de litoral. Uma divisão para cada 5 km já não era demais para a defesa; uma divisão em cada 80 ou 100 km era desesperador! Grandes áreas ficaram descobertas e o problema das reservas tornou-se insolúvel.

O Feldmarschall Von Rundstedt não mudou sua opinião de que os aliados assaltariam a área do Passo de Calais, talvez através do Somme. Enquanto os Aliados viam a força das posições inimigas, o velho marechal estava bastante cônscio das suas fraquezas. Se a Muralha Atlântica era mais que uma “estrutura de propaganda”, como ela a considerava, também era muito diferente daquilo que parecia ser para Hitler e para os Aliados.

Em março de 1942, na sua Diretiva nº 40 (e reiterada mais tarde na Diretiva nº 51) Hitler ordenou que as defesas da costa Atlântica fossem organizadas de um modo a parar uma invasão aliada no momento do desembarque ou logo após. Em agosto de 1942, ele declarou que a construção das fortalezas na França deveria continuar com Fanatismus (energia fanática), tornando-se um cinturão contínuo interligado de estruturas de concreto à prova de bombas. Em setembro do mesmo ano, em uma conferência de três horas com Göering, Albert Speer (Ministro do Reich), Von Rundstedt, Gen. Guenther Blumenstedt (Chefe de Estado-Maior) e outros, Hitler reiterou suas ordens. Ele queria que se preparassem as mais poderosas fortificações possíveis ao longo da Muralha do Atlântico.

“Elas devem ser construídas”, ele disse, na suposição que os Aliados podem ter a supremacia aérea e naval. “Somente o concreto ficará em pé perante o peso esmagador das bombas e granadas”. Hitler queria que fossem construídos 15.000 pontos fortes de concreto, para serem ocupados por 300.000 homens. Seu desejo era de que as fortificações estivessem prontas no dia 1º de maio de 1943. Ele perdia muito tempo inspecionando os mapas mostrando as instalações alemãs ao longo da Muralha do Atlântico. Pedia incontáveis relatórios envolvendo os progressos da construção, a espessura do concreto utilizado, o tipo de concreto utilizado, o tipo de sistema usado para reforçar o concreto com aço, etc. Mas depois de ordenar a construção da “maior fortificação da História”, ele nunca fez uma visita de inspeção às obras da mesma. E, em um tempo que as reservas de suprimentos em materiais eram desesperadamente necessários em outros locais, a construção das fortificações consumiu, em dois anos, 15,8 milhões de metros cúbicos de concreto e 1,2 milhões de toneladas de aço.

Depois de um ano, Albert Speer e sua Organização Todt havia construído apenas uma metade dos Blockhauses (bunkers fortificados) prometidos na costa francesa. Somente na região do Passo de Calais, em Cherburgo, no Contentin e em Brest, na França ocidental é que essas fortificações eram realmente poderosas o bastante.

Em novembro de 1943 o Feldmarschall Rommel foi nomeado, por sugestão do general Alfred Jodl, para inspecionar e melhorar as defesas das costas ocidentais, da Dinamarca às fronteiras espanholas. Isso complicou uma situação de comando já difícil. Rommel possuía uma linha direta com Hitler, o que lhe dava grande influência, mas também não há dúvida que ele respeitava Von Rundstedt, Comandante-em-Chefe do Oeste e observava a etiqueta. Embora este último fizesse restrições a Rommel como estrategista, prestava tributo à sua coragem e lealdade. Se esse cargo houvesse caído em mãos de um nazista convicto, a posição do Comandante-em-Chefe seria insustentável.

A situação era terrivelmente incômoda, mas foi aliviada, com o passar dos meses, pela nomeação de Rommel para comandar o Grupo de Exércitos “B”, sob o comando de Rundstedt e responsável pelos setores vitais da costa do canal, da fronteira germano-holandesa ao Loire. Mais tarde, a nomeação do General Blaskowitz para comandar o Grupo de Exércitos “C”, que defendia a costas de Biscaia e do Mediterrâneo da França, esclareceu nitidamente, mas não satisfatoriamente, o Comando das Forças de Terra. Mas este último, ainda que isolado, continuou sujeito a poderosas influências, resultantes das divergências de opinião entre o Comandante-em-Chefe do Oeste e o Comandante do Grupo de Exércitos “B” e também do general Guderian.

Apesar de Rommel e Rundstedt se respeitarem mutuamente, os dois marechais não concordavam em como se defender da inevitável invasão. Rommel acreditava que a única maneira de derrotar os aliados seria aniquilá-los em uma luta nas praias “no mar, se possível”, com uma força blindada às mãos, para desfechar um contra-ataque rápido e maciço. Ele já passara maus bocados com a supremacia aérea inimiga nos desertos da África do Norte, e sabia que uma força blindada locomovendo-se à luz do dia seria um alvo perfeito para as bombas aliadas. Se a força blindada não estivesse no local, não conseguiria atingi-lo.

Já Rundstedt visualizava permitir que os aliados montassem uma cabeça-de-praia, onde eles não poderiam escapar facilmente. Ele propunha deixar uma força maciça blindada na retaguarda para, somente depois de conhecidas as disposições das forças inimigas, lançar um contra-ataque onde os panzers poderiam empurrar as forças de invasão de volta para o mar. Rundstedt queria recriar as condições de Dunquerque, quando as forças britânicas encararam a sua quase total destruição. Quanto ao local da invasão, Rommel compartilhava a opinião de Hitler, de que o ataque seria realizado nas praias da Normandia. Já o Marechal Rundstedt acreditava que o ataque seria realizado no Passo de Calais.

Mapa da praia de Omaha, um dos principais pontos de ataque aliado

Nesse ínterim, o General Guderian estava preocupado com a situação dos exércitos alemães, tanto no Leste como no Oeste. Ele queria que Hitler liberasse as reservas do Oeste para poder reforçar o front leste. Em uma visita à França no início de 1944, Guderian ficou alarmado com as projetadas disposições de Rommel e com a sua intenção de comprometer as divisões blindadas pouco antes do Dia D, porque Guderian achava que elas não poderiam ser retiradas e empenhadas alhures com rapidez suficiente.

Guderian e von Geyr visitaram Rommel , para tentar dissuadi-lo do plano, mas este estava irredutível. Ele acreditava piamente que a Normandia seria o setor do assalto e queria destruir o inimigo antes que consolidassem qualquer posição. Se o deixassem agir como queria, ele poderia causar tal revés ao inimigo nos baixios das praias que seria impossível aos aliados, naquele ano, montar outro ataque. E por isso precisava das forças blindadas nas proximidades. Rommel não acreditava em uma batalha de mobilidade, como queria Rundstedt, depois do inimigo desembarcar grandes efetivos.

Guderian tentaria convencer Hitler dos perigos da disposição que Rommel dera às forças blindadas, mas, no começo de maio, Geyr Von Schweppenburg, temeroso de que Von Rundstedt estivesse começando a concordar com Rommel, apelou para o Führer. Geyr queria reter o grosso dos panzers ao sul a ao norte de Paris, e Hitler por fim perturbou-se. O resultado foi um meio-termo desastroso, pelo qual quatro Divisões Panzer foram mantidas como reserva de assalto sob o comando do OKW, o Quartel-General Supremo. Agora Rundstedt, mais enfraquecido ainda, precisava pedir permissão para o OKW para obter os meios para desfechar um contra-ataque eficaz às praias de desembarque.

Pode-se dizer que a mais séria fraqueza da defesa alemã no oeste não foi realmente a falta de homens ou equipamentos, mas a falta de um comando unificado. Quando Rundstedt foi encarregado com a inteira responsabilidade da defesa da França e dos Países Baixos, seus poderes estavam aquém de serem proporcionais com essa responsabilidade. Não teve, primeiramente, nenhum comando sobre as unidades aéreas ou navais. Os quatro corpos aéreos que compreendiam os bombardeiros e caças estacionados no oeste estavam sob o comando da Terceira Força Aérea (Generalfeldmarschall Hugo Sperrle), que por seu turno, estava subordinado ao OKL. A 3ª Força Aérea obteve também o comando administrativo das tropas pára-quedistas e das unidades antiaéreas que antes estavam sob o controle do III Corpo Flak.

O Grupo Naval Oeste, sob o comando do Almirante Theodor Krancke compreendia cerca de 60 barcos de vários tipos entre destróieres, barcos torpedeiros e embarcações menores que estavam baseados nos portos sob a jurisdição de Rundstedt, mas o Almirante respondia diretamente ao OKM. O Grupo Naval Oeste controlava não só os navios e instalações navais, como as baterias costeiras.

Rundstedt não poderia emitir nenhuma ordem a Sperrle ou a Krancke, poderia apenas pedir a cooperação de ambos. Em conclusão, a pequena frota de Krancke era virtualmente incapaz de fazer-se ao mar* e a 3ª Força Aérea de Sperrle estava destroçada e dividida.

Uma divisão similar do comando afetou o emprego das tropas de segurança que, como instrumentos da ocupação, normalmente obedeciam a dois governos militares (Militaerbefehlshaber): França e França Setentrional (incluindo a Bélgica). Os governos militares ficaram subordinados diretamente ao OKH, mas, para a finalidade de repelir a invasão, as tropas de segurança passariam a ficar taticamente sob o controle do OB West. Mas também Rundstedt não poderia ordenar nada, apenas solicitar a cooperação desses governos. Não existia dispositivo para o planejamento combinado entre as armas.

Com a supremacia aliada no mar ou no ar, Rommel não tinha ilusões quanto à sua tarefa. Convencido de que uma batalha de mobilidade na Normandia seria um suicídio, durante quase dois meses, o Feldmarschall Rommel dedicou suas enormes energias para reforçar as defesas costeiras desde Cherburgo até o Somme. Hitler depositava a maior fé em Rommel, mas pouco fez para ajudá-lo, além de enviar algumas unidades anti-tanques e anti-aéreas para fortalecer a Normandia Ocidental.

Todos os indícios indicavam um desembarque nessa região. Sem contar com a ajuda da Organização Todt, inteiramente empenhada na fortificação da área do passo de Calais, e incapaz de enfrentar os incessantes ataques aéreos aliados que destroçavam os transportes, Rommel começou a utilizar suas tropas como operários, em detrimento aos treinos essenciais dos soldados. Algumas unidades eram empregadas três dias inteiros por semana em tarefas pesadas, e grande parte do restante do tempo era ocupada em deveres especiais de guarda.

Rommel salientou aos seus comandantes e ao seu estado-maior que as primeiras 24 horas seriam as decisivas. Ele imaginou um complicado sistema de obstáculos entre as marcas da preamar e da baixa-mar, cobrindo as praias, que tornaria extremamente impossível até mesmo a passagem de barcos de fundo chato. Planejou lançar 50 milhões de minas como a primeira linha de defesa marítima e colocar campos minados pelas praias.

Nunca havia minas suficientes e quando finalmente fizeram as entregas, estas eram inadequadas. Os navios lançadores de minas estavam imobilizados pelos ataques aéreos aliados e incapazes de se fazerem ao mar. Concluindo, das 50 milhões de minas previstas, apenas uns 6 milhões delas foram lançadas.

Rommel ordenou que se parasse todo o trabalho na Zweite Stellung, a segunda linha de defesa proposta por Rundstedt. Ele a considerava uma perda de tempo. Concentrou então o esforço no fortalecimento das posições de vanguarda, a fim de fortalecer maciças misturas de ferro angular, os famosos “porcos-espinhos”, “Tetrahydras” e “portões belgas”, com milhares de estacas minadas, voltadas para o mar. Era tão séria a escassez de mão de obra que a 352ª Divisão, que defendia a extensão vital de praia de Grandcamp até Arromanches, teve de cortar e transportar suas estacas da floresta de Cerissy, situada a 18 km de distância e enterrá-las manualmente uma a uma. Nas áreas do Cotentin, Rommel planejara uma grande rede minada de postes ligados com fios, como defesa em profundidade contra desembarques de paraquedistas. Em meados de maio, quando o trabalho já deveria ter terminado verificou que 13.000 cápsulas detonadoras não estavam disponíveis. A séria escassez de todo tipo de material e mão-de-obra comprometeu a execução de um plano defensivo maciço.

Dos 10 milhões de minas necessários para a enorme frente de 48km da 352ª Divisão, só viriam 10.000, e dessas, nenhuma mina Teller. No final de maio, somente dois terços dos canhões costeiros que defendiam a frente do Grupo de Exércitos haviam sido embasados em bunkers. A maior parte do sistema de pontos fortificados espaçados de 800 a 1.300m estava desprotegida. Só em cimento, a necessidade mínima do 7º Exército na Normandia era de 240 caminhões diários. Num período normal de 3 dias, eram cerca de apenas 47.

As repetidas tentativas de Rommel para obter os serviços da artilharia anti-aérea do III Corpo Flak (sob o comando da 3ª Força Aérea) foram inúteis, permanecendo este Corpo sob os caprichos de Göring e se tornando inútil na defesa contra a aviação aliada. Este também proibiu que as tropas da Luftwaffe ajudassem nos trabalhos de defesa.

Assim, no começo de junho, as brechas na defesa eram espantosas. Privadas de profundidade e reduzidas a uma camada externa, essas defesas eram frágeis demais para suportar um assalto em grande escala. Mas a culpa não era de Rommel, ele tentara fazer o impossível com os meios que lhe foram oferecidos.

Na véspera do Dia D, o Comando do Feldmarschall Rundstedt no Oeste totalizava 60 divisões, uma delas, a 19ª Divisão Panzer, reequipando-se depois do sério castigo sofrido no front leste e outra nas ilhas do Canal, reduziam para 58 o efetivo total de divisões. Destas, 31 estavam estáticas e 27 (incluindo 10 divisões panzer) eram tão móveis quanto o permitiam as suspeitas do Führer e os recursos disponíveis. Elas estavam situadas desde a Holanda até as costas do Atlântico e do Mediterrâneo: 5 divisões na Holanda (88º Corpo – incluindo a 19ª Panzer); 19 no Passo de Calais (entre o Escalda e o Sena); 18 entre o Sena e o Loire. O restante estava ao Sul do Loire. 43 Divisões, do total de 60, estavam agrupadas sob o comando do Grupo de Exércitos “B” de Rommel. O 88º Corpo estava na Holanda, o poderoso 15º Exército estava no Passo de Calais e o 7º Exército estava na Normandia.

Rommel conseguira melhorar e fortalecer as disposições do 7º Exército, comandado por Dollman e que, segundo acreditava, teria de travar a batalha decisiva nas praias. As 352ª e 716ª Divisões de Infantaria estavam em suas trincheiras e ninhos de resistência ao redor da costa de Calvados, desde o rio Vire até o Orne. No flanco alemão esquerdo, a 91ª Divisão com o 6º Regimento Fallschirmjäger sob seu comando, protegia o flanco esquerdo da 352ª Divisão na área de Carentan. A 709ª Divisão protegia a linha costeira oriental da Península de Cherburgo. A 243ª Divisão, na península, estava de frente para oeste. Do flanco direito alemão, a 711ª Divisão, comandando um regimento da 346ª Divisão, protegia a costa desde o rio Orne até o estuário do Sena, do lado oposto a Lê Havre.

Portanto, as 709ª, 352ª e 716ª Divisões de Infantaria enfrentariam os assaltos aliados nas praias de nome-código Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword. Contra a vontade de Rundstedt, Rommel conseguira trazer a 21ª Divisão Panzer para a área de Caen, pronta para atacar o flanco esquerdo aliado. As três divisões blindadas, 12ª, 116ª e Panzer Lehr (a reserva do Grupo de Exércitos “C”) estavam no retângulo Mantes-Gassi Court, Chartres, Bernay, Gacé, com a 116ª avançada. Mas os temores de Rundstedt, Guderian e Von geyr haviam colocado a força sob o comando do OKW, sujeito à vontade do Führer. Assim, o resultado do dia decisivo estava nas mãos das baterias costeiras e das três divisões entrincheiradas ao longo da costa normanda, com a 91ª Divisão e seu regimento de pára-quedistas à esquerda e a 21ª Divisão Panzer à direita. Se estas não conseguissem deter e destruir os aliados nas praias, o destina da Alemanha nazista estaria selado e os dias subseqüentes moldariam o futuro da Europa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *