O Nazismo

Principal potência econômica da Europa, a Alemanha é um importante ponto de contato entre o Ocidente e os países do Leste Europeu. É berço de escolas políticas, filosóficas, de grandes músicos, escritores e artistas. Derrotada em duas guerras mundiais, a nação esteve dividida por 40 anos em Alemanha Ocidental e Oriental.

Um pouco sobre a história da Alemanha

Suas origens remontam ao século 10 a.C., quando tribos teutônicas se instalam no atual território da Alemanha. A região foi conquistada por Júlio César em 53 a.C. Com a desintegração do Império Romano em 476 d.C., são criados vários reinos germânicos, consolidados pelo imperador franco Carlos Magno entre 772 e 802.

Além de anexar a Saxônia, a Baviera, a Renânia e outras terras germânicas aos domínios do Sacro Império Romano, Carlos Magno converte os germanos ao cristianismo. O domínio franco encerra-se em 911 com a eleição, pelos duques germânicos, de Konrad I como primeiro rei da Alemanha. Em 962, Otto I torna-se imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1º Reich). Entre os séculos XI e XII, os domínios germânicos expandem-se a leste, mas as lutas entre os príncipes e os conflitos com o Papado enfraquecem a centralização monárquica. A Reforma Protestante e a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) contribuem para a manutenção da fragmentação política da Alemanha.

Em 1815, com o fim das guerras napoleônicas e a adoção de uma política de restauração das monarquias, é organizada a Confederação Germânica, sob hegemonia da Áustria e da Prússia. Essa região sofre um vigoroso crescimento econômico a partir de 1834, com a criação de uma união aduaneira. As revoluções populares de 1848, marcadas pelo nacionalismo e por aspirações liberais, levam à formação do primeiro Parlamento germânico.

Em 1862, Otto von Bismarck torna-se chanceler da Prússia, introduzindo um programa de desenvolvimento industrial e de modernização do Exército. A unificação política da Alemanha envolve guerras contra a Dinamarca (1864), contra a Áustria (1866) e contra a França (1870). Em 1871, Guilherme I é proclamado kaiser (imperador) do 2º Reich alemão. A partir de 1880, o país conhece uma fase de expansão econômica e colonial.

Sob a política de Guilherme II, a Alemanha apoia o Império Austro-Húngaro contra a Rússia, o que acaba levando o país à 1ª Guerra Mundial (1914-1918). A derrota alemã provoca o estabelecimento da república, proclamada em 1919 na cidade de Weimar.

O Tratado de Versalhes proíbe o rearmamento da Alemanha, impondo também perdas territoriais e pesadas reparações de guerra. A República de Weimar (1919-1933) vive graves crises econômicas e sociais. A inflação dispara como resultado da emissão de moeda para o pagamento das dívidas de guerra. Em 1924, o ministro Gustav Stresemann reorganiza o sistema monetário e estimula a indústria. Por cinco anos, a Alemanha vive em relativa paz e prosperidade, mas a crise mundial de 1929 atinge o país. Milhões de desempregados juntam-se ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, o partido nazista, liderado por Adolf Hitler.

Com a crise de 1929, os nazistas passaram a fazer proclamações, gigantescas paradas e desfile das SA e SS. Hitler surgia como o campeão da luta contra o bolchevismo. Empresas capitalistas passaram a dar-lhe apoio financeiro a partir de 1932. Reunindo descontentes de todo lado, especialmente na classe média e no campo, o partido saltou dos 400.000 membros em 1928 para 1,5 milhão em 1930; e dos 2,3% de votos para 18,3%. Fez 107 deputados, contra 77 comunistas.

Em 1932, Hindenburg encarregou o católico Brüning de combater o comunismo. A violência nazista obrigou a dissolver as SA e SS. A crise o obrigou também a tomar medidas socializantes: controle de mercado, socialização de bancos. O velho marechal Hindenburg foi reeleito com 19 milhões de votos, mas Hitler obteve 13 milhões.

Brüning projetou colonizar as grandes propriedades e os latifundiários pressionaram Hindenburg. O chanceler Von Pappen dissolveu o parlamento e convocou eleições.

Os nazistas tiveram 37,3% dos votos e fizeram 230 deputados, graças ao apoio maciço da burguesia, proletarizada pela crise. Hindenburg recusou-se a fazer de Hitler chanceler e, convocadas novas eleições, permaneceu a vantagem dos nazistas.

O novo chanceler, o general Von Schleiter, queria quebrar a força de nazistas e comunistas organizando uma ditadura corporativa ao modelo italiano; pretendia fazer reformas sociais com o apoio dos sindicatos. Mas o que conseguiu foi atrair a ira dos grandes capitalistas. Von Pappen, ligado a eles, aproximou-se de Hitler; propôs a ele diminuir a agressão verbal contra os capitalistas. E Hitler foi nomeado chanceler em 30 de janeiro de 1933.

O empresariado e os conservadores monarquistas achavam que iam manobrá-lo. Os comunistas poderiam ter evitado a chegada de Hitler ao poder caso tivessem apoiado o centro, dando-lhe maioria no Parlamento. Mas também achavam que Hitler cairia logo.

Ascenção do Nazismo

A ideologia nazista incorporou velhos princípios, com novos significados. Subsídios importantes foram fornecidos Por escritores e pensadores: o antissemitismo, de teorias racistas de Gobineau, Chamberlain e Wagner; o pangermanismo, de Wagner; o neopaganismo, de Rosemberg; o Estado forte e a regeneração nacional, de Spengler; a ideia do Terceiro Reich, de Van der Bruck; o nacionalismo exaltado, de Jüger e Von Solomon. O programa do Partido Trabalhista (1920) e os textos de Hitler sintetizavam sua proposta ideológica:

  1. Racismo, ponto fundamental do nazismo. O povo alemão pertenceria a uma raça ariana superior. Sua missão será dominar o mundo sem se contaminar Por raças ou elementos “inferiores”: franco maçonaria, liberalismo, marxismo, igreja católica e os judeus, cujo espírito liberal crítico os transformava e no principal elemento de dissolução da “pureza da raça”;
  2. Totalitarismo, desdobramento do racismo. O indivíduo pertenceria ao Estado: seria um instrumento da comunidade racial. Assim, o Estado não poderia ser liberal e nem parlamentar, pois não poderia dividir-se em função de interesses sociais. Como o fascismo, o nazismo era antiparlamentar, antiliberal e antidemocrático. Da mesma forma, deveria ter um único chefe, o Führer. Ele simbolizaria a Alemanha e teria toda a responsabilidade das decisões, embora pudesse submetê-las a plebiscitos. Esses princípios podiam ser resumidos assim: um povo (Volk), um império (Reich) e um chefe (Führer);
  3. Antimarxismo e anticapitalismo, desdobramentos do princípios fundamentais também. O marxismo era produto do pensamento judaico (Karl Marx), que propunha a luta de classes; o capitalismo seria danoso ao agravar as desigualdades e atentar contra a unidade do Estado. Hitler passou a distinguir o capital nacional, útil à comunidade, do capital internacional, impregnado de judaísmo;
  4. Unipartidarismo, decorrência do conjunto. Hitler pregava que a nova ordem seria atingida nos quadros de um Estado totalitário, fundado sobre o fanatismo nacional e fervor racista; vanguarda seria o Partido Nacional-Socialista, partido único, hierarquizado e dirigido segundo o principio da chefia absoluta. O chefe supremo era ele, que tinha como suplente Rudolf Hess, substituído após 1941 Por Martins Bormann. As forças paramilitares das Waffen SS, comandadas por Himmler, chegaram a ter 500.000 homens; eram tropas de elite, ligadas ao exército. Himmler assumiu o controle da polícia política, a Gestapo;
  5. Nacionalismo reinvidicativo – Para o nazismo, era preciso destruir as “humilhações” do Tratado de Versalhes e integrar as comunidades germânicas da Europa (Áustria, Sudetos, Dantzig). Em suma, conquistar para a Alemanha, na Polônia e na Ucrânia, em espaço vital, o que implicava ajustar contas primeiro com os franceses, aliados dos eslavos.

O partido único controlava toda a a população, pela fiscalização das informações e da propaganda, conduzida Por um ministro especialista nisso: Goebbels. Ele supervisionava imprensa, literatura, cinema, rádio – este, a grande arma da comunicação com as massas.

Tiveram grande importância o lazer dos jovens e dos trabalhadores e a educação da juventude nazista, uma elite fanatizada, obrigada a trabalhar a a partir de 1935.

Em 1933, Hitler torna-se chanceler e transforma a Alemanha numa ditadura dominada pelo partido nazista. Hitler inicia o rearmamento do país e suprime as liberdades políticas e civis. Em 1938, a Áustria e os Sudetos, região alemã na Tchecoslováquia, são anexados por Hitler.

A invasão da Polônia pelos alemães, em 1939, desencadeia a 2ª Guerra. A Alemanha, aliada da Itália e do Japão, forma uma coligação militar conhecida como Eixo. As forças alemãs e seus aliados obtêm vitórias expressivas no período entre 1940 e 1942. Os nazistas criam campos de concentração na Europa Oriental, eliminando pelo menos 6 milhões de judeus.

A partir da derrota alemã diante dos soviéticos na Batalha de Stalingrado, em 1943, o 3º Reich começa a ser expulso dos territórios ocupados. Tropas aliadas invadem a Alemanha em 1945. Em maio, o país rende-se incondicionalmente à URSS, EUA, Reino Unido e França. Pelos acordos de Yalta e Potsdam, a Alemanha é dividida pelos aliados: os ocidentais ocupam o oeste e a URSS, o leste do país. A Alemanha perde territórios para a Polônia e a Rússia.

A Linha Siegfried

A “Siegfriedstellung” foi uma linha defensiva alemã construída durante a década de 1930 em frente à Linha Maginot francesa. Ele se estendeu por mais de 630 km, de Kleve, na fronteira com a Holanda, ao longo da fronteira ocidental do antigo Império Alemão, até a cidade de Weil am Rhein na fronteira com a Suíça – e possuía mais de 18.000 bunkers, túneis e armadilhas para tanques.

De setembro de 1944 a março de 1945, a Linha Siegfried foi submetida a uma ofensiva aliada em grande escala, com os desembarques do Dia D na Normandia.

Em 24 de agosto de 1944, Hitler deu uma diretiva para renovar a construção na Linha Siegfried. 20.000 trabalhadores forçados e membros do Reichsarbeitsdienst (“Serviço de Trabalho do Reich”), a maioria dos quais eram meninos de 14 a 16 anos, tentaram reequipar a linha para fins de defesa.

A população local também foi chamada para realizar esse tipo de trabalho, principalmente na construção de valas antitanque. Mesmo durante a construção, estava ficando claro que os bunkers não podiam resistir às armas perfurantes de blindagem recém-desenvolvidas. Paralelamente à reativação da Linha Siegfried, pequenos “Tobruks” de concreto foram construídos ao longo dos limites da área ocupada. Esses bunkers eram, em sua maioria, abrigos para soldados sozinhos.

Elementos de construção padrão, como bunkers Regelbau grandes, “casamatas” de concreto menores e obstáculos antitanque “dentes de dragão” foram construídos como parte de cada fase de construção, às vezes aos milhares. Frequentemente, hastes de aço verticais seriam intercaladas entre os dentes. Essa padronização foi o uso mais eficaz de matérias-primas, transporte e trabalhadores escassos, mas provou ser uma barreira ineficaz para tanques, pois os tratores dos EUA simplesmente empurraram pontes de terra sobre esses dispositivos.

As armadilhas para tanques com “dentes de dragão” também eram conhecidas como Höcker em alemão (‘corcovas’ ou ‘espinhas’) devido ao seu formato. Esses blocos de concreto armado se posicionam em várias fileiras em uma única fundação. Existem dois tipos típicos de barreira: Tipo 1938, com quatro fileiras de dentes ficando mais altas na parte posterior, e Tipo 1939, com cinco fileiras desses dentes. Muitas outras linhas irregulares de dentes também foram construídas. Outro desenho de obstáculo de tanque, conhecido como ouriço tcheco, era feito soldando várias barras de aço de tal forma que qualquer tanque que rolasse ficaria preso e possivelmente danificado. Se o contorno do terreno permitisse, fossos cheios de água eram cavados em vez de armadilhas para tanques.

Os líderes Nazistas

As inconstâncias da fortuna nunca se fazem esperar muito para os marechais da política nazista. Por exemplo, no começo de 1943, Goebbels se tornou o homem-da-hora, só para recair passados poucos meses na relativa obscuridade da sua posição anterior. Depois foi Goering que desapareceu do seu alto trono: dizia-se que ele estava numa espécie de “semiexílio” em Gratz. Entretanto, qualquer coisa de misterioso sucedeu, que de novo o trouxe para o primeiro plano. A explicação do caso deve ser, muito simplesmente, que havia alguma coisa que era preciso fazer, e Goering era o homem indicado para executá-la.

Por estranho que pareça, foi este homem, cuja brutalidade excedia a de qualquer outro dos líderes nazistas, quem acabou por simbolizar o lado “humano” do regime. O seu interesse em medalhas e uniformes, na ostentação infantil e na boa comida, são coisas em que os alemães reconheceram características nacionais, e por isso fizeram dele uma figura popular e favorita. Nestes últimos tempos, contudo, a popularidade de Goering se foi desvanecendo, pois, em face das duras necessidades da hora, já ninguém podia olhar com tolerância para o fraco do luxo que o dominava. As anedotas e rumores sobre a sua concepção muito elástica do que é “seu” e do que é “meu”, vinha correndo em volume crescente. Conta-se por exemplo que, durante uma recepção, um convidado contemplava com admiração um formoso candelabro; um general que passava junto dele murmurou: “Tenha cuidado, não vá Goering dar por isso…”

O fato de o Partido Nacional-Socialista, apesar de toda a sua corrupção e impopularidade, ter mantido a nação sob o seu jugo inflexível, deveu-se à solidariedade do corpo de líderes nazistas, que se conservavam unidos apesar de todos os conflitos que internamente os dividiam. Esta frente comum contra toda e qualquer oposição, foi ditada por uma comunidade de interesses e por uma fé de fanáticos na ideia Nacional-Socialista, suprema e primordialmente encarnada em Adolf Hitler.

Mas, para além dessa fachada de unidade, ocultava-se um ninho de interesses pessoais em conflito, que o próprio Hitler parece ter estimulado para se manter no seu lugar de juiz supremo.

Heinrich Himmler, que foi ministro do Interior, líder nacional das SS e chefe da Polícia Alemã, era talvez, de todos os chefes do Nazismo, aquele que o grande público conhecia menos. Não obstante, a ideia que em geral se tinha dele estava bem simbolizada no apelido der Himmler – na Idade Média o homem que “içava” gente, quer dizer, o carrasco… Há provas irrefutáveis de que Himmler possuía uma sede demoníaca de poder.

Com energia e determinação, foi edificando uma organização tão completa, que lhe era possível por meio dela trazer sob controle toda e qualquer pessoa, por muito alto que estivesse colocada. Nos seus arquivos secretos, encontrava-se tudo quanto fosse necessário saber sobre as “escorregadelas” de Goering ou de Goebbels. Até as ações do próprio Führer estavam sob a alçada das suas investigações!

Quase inteiramente desconhecido fora da Alemanha, e a despeito disso um dos magnatas mais influentes do regime, foi Martin Bormann. Todos em Berlim sabiam de há muito que ele seria o sucessor de Rudolf Hess no cargo de “delegado do Führer”: assim figurava nos jornais do mundo. E era, como Hess, o diretor da Chancelaria do Partido. Numa palavra, era ele o braço direito de Hitler em tudo que dizia respeito aos negócios internos.

Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores do Reich, era mais um exemplo dos muitos indivíduos, dotados de grande energia mas completamente desprovidos de escrúpulos morais, que o regime nazista trouxe à tona da história. Tendo começado por ser um modesto vendedor de champanha – daí o seu apelido: Joachim “Extra-Seco” – Ribbentrop foi adotado por um parente, e dessa maneira pôde adicionar ao nome o cobiçado “von” aristocrático.

Muitos alemães o consideravam ainda mais responsável do que o próprio Adolf Hitler pela política de agressão da Alemanha, e o modo de ver, tantas vezes expresso, devia ter sólidas razões; com efeito, repetia-se frequentemente que, se Ribbentrop não houvesse insistido em que a Inglaterra acabaria por ceder, e não tivesse aconselhado Hitler a forçar a solução do conflito germano-polonês, talvez não tivesse começado em 1939 a segunda guerra mundial.

Mas de todos os líderes o mais impopular era sem dúvida o Dr. Robert Ley, chefe da Frente do Trabalho. Este homem, que era um dos raros amigos pessoais de Hitler, possuía uma barriga respeitável e uma dupla papeira no pescoço; falava com uma voz áspera e asmática, e a típica fanfarrada nazista.

Constituía-se um espetáculo digno de ver-se, nas cerimônias oficiais, especialmente nas sessões do Reichstag, o modo como ele se precipitava, aos tropeções e com uma expressão de ansiedade, ao encontro das personalidades de categoria superior à sua, para as saudar, lançando de revés uma mirada inquieta aos fotógrafos dos jornais. Nem mesmo o marechal-de-campo Keitel, a quem chamavam “La Keitel” – tão disposto ele estava sempre a se prostituir diante de quem quer que estivesse em cima – nem mesmo esse homem corrupto sabia ocultar o seu nojo, ao ver aproximar-se o pequeno e roliço ditador do Trabalho.

A sua moralidade pessoal era tão baixa, que muitos nazistas moderados se tinham esforçado por excluí-lo da vida pública, por saberem que ele seria sempre um centro de corrupção no meio do partido. Mas, embora as suas bebedeiras e sua indignidade fossem conhecidas até dos garotos das ruas de Berlim, não havia qualquer esperança de o ver pelas costas, enquanto durou a proteção que lhe dispensava Adolf Hitler em pessoa.

Hitler – O Reichsführer

Adolf Hitler nasceu em 1888 em Brunau, na Áustria, filho de um empregado de alfândega. Aos 21 anos, mudou-se para Viena e tentou sem sucesso entrar na Academia de Belas-Artes para estudar pintura e arquitetura.

Vivia de expedientes, como pintar cartões postais. Perambulava pelos bares, lia jornais e livros, pernoitava em asilos. Autodidata, assimilava mal as leituras. Desprezava judeus, marxistas e as massas, todas incapazes, segundo ele, do sentimento nacional – ideias apreendidas da pequena burguesia vienense.

Em 1913, com 25 anos, mudou-se para Munique. Lutou na Primeira Guerra com bravura. Ferido duas vezes, foi condecorado com a Cruz de Ferro. No hospital, remoía a derrota, que atribuía não à eficiência do inimigo, mas à traição de grupos políticos radicais dentro da própria Alemanha. Voltou para Munique e passou a trabalhar na sessão de imprensa e propaganda do Quarto Comando das Forças Armadas, a Reichswerth.

Em setembro de 1919, Hitler aderiu a um grupo pomposamente chamado de Partido Trabalhista Alemão, fundado por um mecânico ferroviário. Seu programa falava em bem-estar do povo, igualdade perante o estado, anulação dos tratados de paz, exclusão dos judeus da comunidade.

Hitler pôs sua capacidade oratória a serviço do grupo e contribuiu para a mudança de nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães – Nazi (abreviado do alemão Nationalsozialist). O símbolo era a bandeira vermelha com a cruz gamada. Possuíam um jornalzinho. O capitão Roehm incorporou uma organização paramilitar, as SA (Seções de Assalto), encarregadas de perturbar as reuniões dos adversários. O confuso programa denunciava judeus, marxistas e estrangeiros; prometia trabalho e a supressão das regras citadas em Versalhes.

Em 1921, aos 33 anos de idade, Hitler tornou-se chefe do Partido, que tinha apenas 3.000 filiados. Depois de fracassar na tentativa de golpe em Munique (1923), Hitler foi condenado a cinco anos de prisão. Cumpriu oito meses, que aproveitou para escrever a primeira parte de seu livro Mein Kampf (Minha Luta).

Inspirando-se no bolchevismo, reorganizou seu partido, dando-lhe mais eficiência e disciplina, dotando-o de estruturas administrativas e hierárquicas regionais, de um jornal e de formações paramilitares: além da SA, as SS, brigadas de segurança. Organizou a juventude hitlerista e atraiu sindicatos, associações de médicos, professores, juristas, funcionários e outros profissionais.

Quem observava Hitler durante qualquer das cerimônias públicas em que estava presente , ficava impressionado pela inconsistência manifesta da sua natureza. O seu porte era rígido, sem gravidade nem naturalidade. Quando descia da tribuna, parecia mais um mercador de feira que decidira posar de grande homem, do que o chefe idolatrado de um povo.

Começava sempre a falar em voz muito forte, repetindo de costume a concebida história da sua ascensão de simples soldado a líder do Reich Alemão. Ia depois aquecendo progressivamente, e de repente víamos diante de nós um homem bastante mudado, verdadeiro feixe de nervos num estado de agitação apaixonada. As palavras soavam como marteladas, e, olhando em volta, o espectador notava que o auditório inteiro lhe bebia religiosamente as expressões, de boca aberta e olhos esbugalhados…

Era quase preciso beliscar-se ou picar-se com um alfinete, para se não deixar levar por aquela hipnose coletiva. Depois, repentinamente, o encanto desfazia-se, e o que se via era apenas aquele homenzinho de botas lustrosas e melena caída, que estava lá em cima a ver se convencia, e convencesse, da sua grandeza.

Quando considerada superficialmente, a sua política exterior parecia impregnada de cínico realismo; mas a verdade é que as paixões e a atitude pessoal do Führer tinha com freqüência desempenhado um papel dominante. Não era segredo para ninguém, em Berlim, que qualquer assunto urgente podia chegar a esperar dias e semanas, sem andamento, porque os conselheiros não ousavam levar um caso penoso ou difícil ao conhecimento do Führer, até que este tivesse dado sinais de uma disposição de espírito excepcionalmente boa.

A política da Alemanha tinha sido muitas vezes inspirada pelo seu rancor pessoal, e essa espécie de irracionalidade era sem dúvida a característica mais aterradora do regime.

Na qualidade de comandante militar, ninguém podia negar que Hitler possuía uma aptidão pouco comum para traçar planos grandiosos. Cultivava, porém, a mania dos pormenores, e esta sua feição mental tinha por vezes causado tremenda irritação entre os militares. Chegava a chamar o chefe do estado-maior trinta vezes durante a mesma manhã, para que ele lhe explicasse a significação de operações que só deviam interessar aos comandantes de campo. Hitler tinha também causado demoras na aprovação de algum tipo novo de arma, pelo fato de pretender verificar pessoalmente todas as minúcias.

Verem-se comandados por um chefe supremo ciente do seu poder, e apesar disso tão falho de educação militar, devia ser das provas mais duras para o estado-maior alemão. São inúmeros os episódios da interferência de Hitler em assuntos militares. Era ele de uma indiferença desmedida em questão de formalidades regulamentares, e diz-se que tinha chegado a dar ordens a batalhões e a companhias, passando por cima dos respectivos comandantes. Esta atitude está bem caracterizada numa anedota que se atribui ao general von Bock. Perguntava-lhe o famoso maestro Furtwängler por que razão ele, von Bock, fora retirado do comando que exercera. Respondeu o general: “Meu caro Furtwängler, se o Führer soubesse tocar, ainda que fosse gaita, você nunca mais poderia dirigir uma orquestra em público…”

A ambição de ser, ao mesmo tempo, grande homem de estado e cabo-de-guerra – o maior de todos – estava porém, feliz ou infelizmente, muito acima das qualidades pessoais e da preparação do Führer. A sua intervenção pessoal na guerra tinha redundado sempre em desastre, e a explicação do fato encontra-se talvez na divisa que ele sempre se esforçou por seguir: “Tornar possível o impossível.” Nos domínios da política, esse princípio produziu, não resta dúvida, resultados brilhantes. Contra o parecer expresso dos seus generais, Hitler ordenou a remilitarização da Renânia, ocupou a Áustria, “resolveu” a seu modo a questão tcheca; e esses triunfos políticos deram-lhe a ilusão de que o seu senso estratégico seria também infalível.

Foi essa política de realização de impossíveis que ele procurou seguir com a invasão da Rússia. Mas escaparam ao seu raciocínio fatores militares tais como reservas, transportes, o clima, e sobretudo as disposições combativas e patrióticas do povo russo. E, tendo calculado erroneamente esses fatores, a sua autoridade estratégica enterrou-se nas estepes da Rússia como nas areias do deserto do Norte da África.

Nestes dois últimos anos, porém, Hitler tinha mudado. Em primeiro lugar envelheceu. Nos seus olhos pairava uma expressão mais tensa e desorientada. Dava a impressão de um homem que via a areia da ampulheta se ir esvaindo, e se julgava impotente para detê-la.

Quanto à saúde do Führer, só os mais íntimos, conheciam a sua real condição. Tinha sofrido várias crises nervosas, e não esteve sempre, ininterruptamente, à frente do governo. Por vezes durante semanas e meses, o controle político e militar passou para outras mãos – o político, habitualmente, para as de Himmler e Bormann; e o militar, para as do Alto Comando.

Ultimamente Hitler vivia no mais completo isolamento, e só via raras e contadas pessoas. Ao que se imagina, os líderes militares alemães conseguiram finalmente ter mão-forte na direção política da guerra, e o Führer tinha sido mais e mais relegado para as sombras do fundo.

À medida que as batalhas travadas forem passando à história, poderá esta proceder ao juízo da carreira deste homem estranho. Já hoje se torna claro que a guerra nos arrastou às mais radicais transformações dos tempos modernos. Quando esses acontecimentos pertencerem bem ao domínio do passado, talvez tenhamos que considerar Hitler como um instrumento do destino, completamente diferente desse outro destino que ele para si sonhara, nas alturas do seu ninho de águia de Berchtesgaden… Devido ao seu regime de tirania e agressão, o amor da liberdade, ideal estremecido, voltou a inflamar o mundo de leste a leste. Cidadãos de países onde a liberdade era considerada como coisa banal e assegurada, por ser tão familiar, passaram a compreender com a sua carne e o seu sangue a realidade da ameaça que pesava sobre essa liberdade.

Talvez a história venha a reconhecer um dia que esse renascimento do amor da liberdade foi a verdadeira e única missão de Hitler sobre a terra.

O “Evangelho” Nazista

Os nazistas tentaram remodelar todo o fundamento da vida nacional da Alemanha, que antes da ascensão de Hitler ao poder, era, numa palavra, o Evangelho. É certo que, pessoalmente, muitos alemães devotavam completa indiferença à religião; mas esses mesmos estavam marcadamente influenciados pelos preceitos comuns a todas as nações cultas do mundo cristão.

Os sacerdotes, tanto católicos como protestantes, tinham dado provas de grande coragem e tenacidade na sua luta pela liberdade de consciência. Cooperavam entre si na resistência à opressão nazista, e desse modo ajudando a derrubar muitas das barreiras que antes separavam as diversas correntes religiosas. Os padres iam pregar nas igrejas luteranas, e os pastores protestantes que foram expulsos das suas comunidades tinham encontrado apoio e acolhida nos fundos da Igreja Católica.

Era sem dúvida alguma a firme organização da Igreja Católica que, até aquele momento, tinha salvo o que restara da cultura alemã e da liberdade espiritual dos alemães. E era também o catolicismo que vinha respingando a maior vantagem do renascimento religioso em toda a Alemanha. Deve-se isso principalmente à corajosa atitude de muitos dos chefes da Igreja. Assim, por exemplo, por toda a Alemanha tinha circulado de mão em mão cópias dos sermões antinazistas do conde von Galen, bispo de Munster, e a catedral desta diocese ficava a transbordar de assistentes sempre que o bispo pregava. A Gestapo não ousou intrometer-se.

Durante o período em que a prisão de von Galen pareceu iminente, os camponeses vinham todas as manhãs à cidade, nas suas carroças, e batiam à porta da residência episcopal, pedindo que o bispo se mostrasse ao povo, para desse modo se certificarem de que ele não tinha ido para um campo de concentração.

Inúmeras são as lendas que correm a respeito deste homem. A mais conhecida é talvez a seguinte: um chefe nazista entrou certo domingo na igreja, e pôs-se a bradar que aqueles que não estavam contribuindo para a luta de vida ou de morte da Alemanha, com a sua própria carne e o seu sangue, ou a carne e o sangue de seus filhos, não tinham o direito de falar. Ao que o bispo retorquiu sem hesitação: “Proíbo, seja quem for nesta igreja, de criticar o Führer!” Histórias como esta e outras se contam não só de von Galen, mas de muitos outros sacerdotes.

Hitler intentou dar aos alemães uma nova religião. Mantinha-se a juventude alemã longe das igrejas, e oferecia-se novo objeto de crença. Em muitas partes do país a fé em Hitler chegou mesmo a tomar as proporções de verdadeiro culto, mas isso era ainda apenas um movimento de superfície. Aquilo com que a juventude alemã vinha sendo inoculada era, antes, um decálogo de sangue, poder e germanismo. Tudo o que dissesse respeito a outras nações, era vedado ao seu conhecimento.

Tanto que Hitler era ocasionalmente comparado com Jesus, ou tido como um Messias enviado por Deus para liberar seu povo.

Tanto que em alguns orfanatos era habitual esta pequena oração:

Führer, mein Führer, von Gott mir gegeben, beschütz und erhalte noch lange mein Leben.
Du hast Deutschland errettet aus tiefster Not, Dir verdank ich mein täglich Brot.
Führer, mein Führer, mein Glaube, mein Licht.
Führer mein Führer, verlasse mich nicht.

Tradução aproximada:

Führer, meu Führer, que me foste enviado por Deus, protege-me e mantém-me vivo por muito tempo.
Salvastes a Alemanha da mais profunda miséria, a ti te devo o meu pão de cada dia.
Führer, meu Führer, minha fé, minha luz.
Führer meu Führer, não me abandones.

Ora, era precisamente nessa atitude da mocidade alemã que residia um dos maiores perigos, não só para a Europa, mas para o mundo inteiro. Aquilo que Hitler semeou outros virão a colher, e talvez seja necessário esperar a passagem de algumas gerações, antes que as sementes do nazismo possam ser de todo expurgadas.

Paralelamente à criação da nova “religião”, corria o aniquilamento sistemático do antigo sistema judiciário. Para quem chegava de fora, tornava-se realmente difícil entender a significação do novo sistema de ilegalidade instituído pelo nazismo.

A Alemanha estava em condições quase comparáveis às do Interregnum de 1254-73, de triste lembrança na sua história. Cidadãos inocentes podiam ser, e eram na verdade, encarcerados e imediatamente executados sem julgamento nem formalidade de qualquer espécie. Nem sequer se observavam as regras mais elementares de respeito pelo acusado, que podia ser liquidado em sua própria casa. Como compreender semelhante estado de coisas, quando nos lembramos que este povo foi considerado um dos mais cultos e civilizados do mundo?

Na vida oficial, como na existência particular, floresciam brutalidade, servilismo, mentira e corrupção; a deslealdade e a denúncia tomaram o lugar das aspirações à verdade e à honra.

Milhões de alemães tinham reagido intimamente contra estas manifestações da política hitlerista, tal como outros povos europeus — mas poucos teriam ousado ir até o protesto verbal. Falta de coragem moral? Talvez.

Mas levantar a voz numa nação dominada por um regime do tipo nazista, era uma coisa cujas consequências os que estavam de fora só muito remotamente podiam conceber. Qualquer sinal de oposição equivalia a arriscar não só a própria cabeça, mas as vidas até de parentes e amigos.

Os alemães viviam numa situação que era de apavorar. Estavam acorrentados ao regime nazista, sujeitos à sua sistemática ação adormentadora, e à segregação relativamente ao mundo exterior. Os mais inteligentes dentre eles compreendiam perfeitamente que a vitória da Alemanha hitlerista resultaria numa insuportável camisa-de-força para os alemães, do mesmo modo que para outras nações. E isso era qualquer coisa que eles não ousavam desejar de todo o coração.

Mas a ideia de quem não tivesse no Führer uma confiança de fanático, era um traidor da pátria; além disso, aqueles que puderam assistir à crise de 1918, sabiam o que era ver-se desarmado e entregue nas mãos do inimigo, e imaginavam que uma nova derrota seria mil vezes pior.

O povo alemão começava a sentir que, sob as cinzas e ruínas da Europa, ardia um fogo de ódio, e que contra ele se voltava a ameaça de todos os povos europeus – aqueles mesmos que o nazismo pretendia integrar na Alemanha, e que, afinal, só conseguiu unificar contra ela. Sentiam também a pressão dos povos eslavos, que se adensava, e a ameaça latente de milhões de trabalhadores estrangeiros, que viviam na Alemanha sob o regime do trabalho forçado.

A miséria da guerra e da ocupação, a realidade macabra dos campos de extermínio causaram indignação entre os povos. E o ódio acumulado nos países sob ocupação estava só esperando o momento de explodir.

Apesar de tudo isso, muitos alemães pensavam dever levar a corrida até o fim. E que outro caminho lhes restava aberto, senão o da luta? Os Aliados, de fato, não deram ao povo alemão qualquer alternativa para a rendição incondicional. Era difícil levar um povo a aceitar semelhante solução, antes de produzida a catástrofe militar. Na realidade, os inimigos da Alemanha estavam forçando os alemães a unirem-se sob o estandarte da suástica.

“Vitória ou Bolchevismo” era o estribilho do Dr. Goebbels. Era outra maneira de dizer que não havia mais escolha para a nação alemã. Em todo caso, uma coisa os nazistas sabiam sem sombra de dúvida: que a batalha, o Kampf, que Hitler lhes prometeu e serviu, representava para eles, questão de vida ou de morte.

Armas Secretas do III Reich – As “Sonderwaffen” de Hitler

A tecnologia bélica nazista ultrapassou várias barreiras ao tentar implementar as mais perfeitas máquina de guerra, assunto que ainda é motivo de controvérsias mesmo depois de vários anos do final da guerra.

Foguetes V2, Tecnologia infravermelha, caças com desenhos bastante aerodinâmicos e tanques gigantescos. Esses são meros exemplos das tecnologias criadas por cientistas nazistas durante a guerra, cujas intenções eram a aniquilação rápida dos adversários e a supremacia militar de um império motivado por ódio e rancor.

Os inúmeros inventos dos alemães chegam até espantar cientistas contemporâneos, vão desde os primeiros protótipos de uma tecnologia infravermelha a ser utilizada em rifles e veículos, submarinos gigantescos, tanques em pequena escala controladas por controle remoto e aviões com uma aerodinâmica estranhíssima e inovadora para a década de 40 , como os “caças delta” dos irmãos Horten. Parte dessas tecnologias foram roubadas pelos aliados em 1945, cujas intenções eram a criação de novas tecnologias para um futuro e suposto uso, sem perceberem o mal que tinham em mãos.

Para entendermos a febre da evolução bélica, devemos voltar para o século XIX. O ferro e o aço, diferentemente do ouro e de outras commodities dos séculos XVIII e XVII, eram fatores determinantes de um país desenvolvido. Países cujos setores secundários eram altamente evoluídos, superando o setor agrícola em termos de produção, possuíam indústrias siderúrgicas de ponta. Assim sendo, quando em tempos de paz, a área de pesquisa era totalmente voltada ao setor bélico e afins. Caso que exemplifica a Prússia.

Desde a unificação alemã (1862-1870), o país investiu no setor bélico desde o início, por ter uma indústria altamente desenvolvida e sem dependências de capital externo. De 1870 até 1930, a Alemanha Unificada teve um setor bélico de ponta, superando países como França e Inglaterra em termos de quantidade de produção. A Corrida Armamentista da Bélle Époque (1875-1914) foi motivada por diversos fatores, entre eles estava o medo da supremacia alemã em seu exército e a necessidade de armar-se contra uma suposta nova guerra. No caso seria a Grande Guerra.

A Era do fascismo (1918-1945) foi o período em que a tecnologia bélica saltou de 2 para 100. A Alemanha arrasada pelo Tratado de Versalhes, procurou em pouco tempo pesquisar novas táticas de guerra, empreendimento de novas tecnologias em guerra e uma remilitarização em etapas.

Apesar de estar derrotada, a Alemanha parecia preparar-se para uma “grande revanche” contra os seus rivais da Entente Cordialle. Em 1933, Adolf Hitler assume o poder, e a partir de então promete que o expansionismo militar era necessário para reconquistar a glória perdida do povo alemão e a supremacia ariana. Estava dada a largada para o incentivo maciço nos setores bélicos.

Hitler sabia que, para ter o maior exército da Europa, seria necessário as melhores tecnologias. Durante a República de Weimar (1919-1933), diversos cientistas e pesquisadores alemães surgiam em cada ponto da Alemanha. Durante essa época, a Física evoluía em exponencial, a Química descobria as forças atômicas e a Biologia tratava da genética.

Exemplos de cientistas famosos foram os irmãos Horten. Os irmãos desenhavam aviões em formas de Delta (Asa-delta). Seus desenhos consistiam de aviões com uma aerodinâmica bastante incrível. A brincadeira começou a ficar séria quando eles entraram para a Luftwaffe (força aérea alemã), como projetistas de aviões. A seriedade plena e desenvolvimento de seus aviões de turbina a jato só começou a ser feita em 1945 com a aprovação de Hermann Goëring. Porém, com o fim da guerra, parte dos aviões ficaram abandonados em hangares e depois roubados pelos americanos. Caso o projeto fosse aceito antes de 45, o destino de algumas batalhas provavelmente seriam outras.

O “Stealth” americano seria mera coincidência?

No setor de misseis balísticos, destacou-se o famoso físico Werner Von Braun. Os famosos mísseis V1 e V2 eram , para a década de 40, algo totalmente irreal e fora do comum. As pessoas ao verem mísseis desses atingirem suas cidades achavam ser coisas de outros planetas, principalmente em Londres. Um projeto pouco divulgado fora o Hochdruchkannone V3, ou Projeto V3. Tal ambicioso projeto era de uma espécie de lançadores de diversos misseis capazes de jogar 600 toneladas de explosivos em Londres por dia.

Em apenas uma noite, Londres teria 70% de sua cidade destruída. O Projeto foi destruído por bombardeiros americanos em Mimmoyecques, no norte da França, banhando o canal da Mancha. Com o fim da 2ª guerra, Von Braun foi transferido pelo governo norte-americano para trabalhar em um futuro “projeto espacial”. Na Guerra Fria, o mesmo foi responsável pela criação do programa Apolo 11 que colocou o homem na lua.

Dentre outros projetos dos nazistas, o mais conhecido era o Messerchmidt 262, o primeiro caça-jato do mundo. Chegando a atuar em combate e tendo um desempenho destruidor, em duas noites de 1944, cem aviões da RAF foram abatidos por cinco ME-262!

Outros protótipo famoso foi o Me 163 Komet. O “Pequeno Jumbo” ou “Jumbinho” – apelidado pelos ingleses – chegava a 320 km/h, podendo chegar a uma altura máxima de 12.000m de altitude. Devido a uma imensidão de problemas, o projeto do jatinho teve que ser abandonado devido a problemas de combustível de de controle no ar. Os dois projetos foram roubados pelos aliados em 1945.

Os projetos extremamente pouco divulgados, foram as tecnologias exclusivas dos nazistas. Foram eles que criaram o primeiro sistema infravermelho para armamentos. O sistema consistia de um “canhão de luz” que soltava luz negra, onde a luz refletia, possibilitando, através de uma luneta, observar o local refletido formado com uma película fosforescente verde em ambientes noturnos.

Tal projeto fora roubado pelos americanos e utilizado durante a Guerra da Coreia em 1953. Devido ao tamanho do equipamento, os americanos desenvolveram equipamentos menores, tal como conhecemos as lentes de visão noturna de hoje.

Estima-se que 30% das tecnologias nazistas expropriadas pelos americanos e/ou ainda não divulgadas estão tecnologias fora-do-padrão físico, ou seja, sejam tecnologias extremamente avançadas as quais a física não conseguiria explicar devido a provas e materiais terrestres. Tal caso são os famosos “OVNI” Haunebu e Vril. Certos documentos da Luftwaffe começaram a aparecer em 1948 com projetos ambiciosos de discos voadores em formato cilíndrico e de disco (os mais famosos).

Muitas fotos da época mostravam esses discos sobrevoando campos abertos e em alturas bem altas. Testemunhas oculares diziam que tais objetos conseguiam se movimentar verticalmente e horizontalmente sem quaisquer dificuldades. A grande especulação é que 70% dessas fotos foram forjadas e tratam-se de farsas. Porém, muitas dessas foram tomadas pelos governos norte americano e britânico. Na década de 60, um vídeo mostrava americanos transportando um disco gigantesco em um Hangar da USAF, United States Air Force (Força aérea dos EUA).

Abaixo, “supostas” imagens do Haunebu – O que supostamente seria uma fraude, começa a se tornar uma verdade inconveniente para certos governos que escondem suas tecnologias – Na foto, o OVNI americano:

É de espantar que, quase a totalidade dessas tecnologias hoje estejam nas mãos de outros países e foram roubadas para fins não-pacíficos. Parte dessas tecnologias está sendo usada para o desenvolvimento de novas armas que irão, num futuro não tão distante, ser usadas em novas guerras – que são fomentadas pela ambição de políticos e militares de alto comando – para a aniquilação da humanidade. Vale em tal ocasião a frase de Mahatma Ghandi: “Olho por olho e o mundo acabará cego”.

Artigo escrito Por Roberto M.S. Carnier

O bombardeio de Berlim

Muitos dos que visitaram Berlim em 1941 e 1942 esperavam encontrar a cidade em ruínas. Na realidade, a essa altura, só procurando minuciosamente poderiam ter descoberto vestígios dos ataques aéreos. A guerra devastara com efeito Berlim, mas a capital do Reich era uma grande cidade, e os efeitos do bombardeio eram quase insignificantes no centro. Além disso, as brigadas de reparação trabalhavam com incrível rapidez. Dentro de poucas semanas estavam desvanecidos todos os traços de escombros deixados por algum ataque intenso.

Durante os primeiros anos da guerra, as autoridades berlinenses não pouparam esforços para disfarçar os danos causados pelas bombas. Dinheiro, mão-de-obra e materiais, eram prodigamente dispensados para esse efeito. Do ponto de vista da propaganda, seria importante demonstrar que os ataques britânicos não passavam de picadas de alfinete.

Quando se verificava impossível proceder a reparos, escondia-se a propriedade danificada sob imensos tapumes, todos forrados de cartazes a anunciar que o edifício estava a cargo de um empreiteiro. Os estrangeiros que passavam por Berlim não poucas vezes se maravilhavam de ver tão ativa a construção civil. Isso era então, porque depois, a aparência de Berlim sofreu radicais alterações, tornando-se uma cidade que a guerra devastou.

Com o mês de maio, começaram as investidas noturnas quase diárias dos aviões ingleses, que tinham como propósito principal esgotar os nervos da população de Berlim. O que conseguiram plenamente. Houve ocasiões em que os ingleses, muito embora despejando apenas algumas bombas, sobrevoavam a cidade por tanto tempo, que todos se viam forçados a passar horas e horas nos abrigos, perdendo assim outras tantas de sono.

Nestas condições, mesmo quando as fábricas não eram devidamente atingidas, a produção caía de nível, devido ao progressivo esgotamento físico e mental dos operários. Muitos berlinenses criaram o hábito de não mudar de roupa até cerca das duas da manhã, enquanto outros dormiam por volta das oito da noite, na esperança de poderem aproveitar umas cinco horas de sono antes de soar o sinistro alarme.

Em agosto de 1943, os danos do bombardeio de Berlim estavam distribuídos com bastante uniformidade. Unter den Linden, a famosa avenida central, fora severamente atingida; mas o bairro da Wilhelmstrasse quase não mostrava uma arranhadura.

O Ministério das Comunicações, na Wilhelmplatz, ficou com o andar superior completamente destruído, e o Ministério do Ar, obra de Göering, foi atingido por uma bomba, que arruinou 27 das suas repartições.

Todo o sul e o oeste de Berlim estavam reduzidos a montões de escombros, sobretudo o bairro de Wilmersdorf. Estranha era a sensação de quem percorria esses bairros de automóvel, à noite, vendo a lua brilhar através das janelas vazias de casas sem telhado, enquanto nas ruas não se ouvia o mais leve rumor de vida. As silhuetas de pesadelo dessas ruínas, erguidas para o céu, faziam pensar num cenário irreal de teatro, e custava a acreditar que fosse aquilo Berlim – a devastação e o deserto no coração de uma capital europeia.

O maior êxito de todos os bombardeios fora, por si só, a dinamitação das represas do Mohne e Eder, em maio de 43. Não era exagero afirmar que esses bombardeios se deviam contar entre os golpes mais duros que fizeram chorar a Alemanha. Morreram afogadas inúmeras pessoas, e os serviços de impostos e de censo de regiões inteiras ficaram desorganizados, porque a inundação resultante da destruição dos diques arrastou consigo os registros paroquiais, os arquivos da polícia, e outros documentos de igual importância administrativa.

Quanto aos resultados militares do ataque, deve incluir-se neles a interrupção do abastecimento de energia elétrica, e o abaixamento do nível das águas em numerosos canais essenciais às comunicações interiores. Em consequência disso, as barcaças tiveram que passar a carregar menos carga, e tornou-se impossível respeitar os horários de navegação. Dado que as represas fossem reparadas, levariam muito tempo a encher de novo até o nível normal.

Ainda do ponto de vista militar, o bombardeio dessas represas e da região industrial da Alemanha Ocidental, tinha sido de muito maior alcance e repercussão do que os bombardeios a Berlim. Mas estes tiveram pelo seu lado inegável efeito psicológico. É que, por meio deles, não era só atingida a capital do Reich, mas também o símbolo do Nacional-Socialismo.

A desintegração de um povo

Em fins de fevereiro de 1943 os ingleses começaram a intensificar os seus ataques aéreos. Várias cidades da Alemanha ocidental foram devastadas, entre elas Essen. Depois, a 1° de março, a vez de Berlim. A força atacante não encontrou pela frente a barragem de defesa antiaérea que se esperava, e despejou à vontade, sobre a capital do Reich, enorme quantidade de bombas demolidoras e incendiárias. O vento, que soprava forte nesse dia, espalhou as labaredas com furiosa rapidez. Passado o alarme, os berlinenses saíram dos seus abrigos, foi para verificar que o horizonte estava abrasado dos incêndios que ardiam praticamente em todos os bairros da grande cidade.

Esse bombardeio de 1° de março foi o mais duro dos golpes que a capital até então recebera; a depressão dos ânimos foi profunda durante os dias seguintes, muito embora Goebbels tivesse se esforçado por dominar o espírito derrotista que alastrava. Grande número de berlinenses receberam prêmios pela sua exemplar conduta durante o ataque, e os jornais transbordavam de hinos de louvor aos “bravos cidadãos”. Goebbels chegou mesmo a aparecer de capacete de aço, na Breitenbach Platz, para distribuir barras de chocolate para a meninada!

Foi isso, bem entendido, logo depois do bombardeio: porque, naqueles dias que se seguiram, nem o Dr. Goebbels nem qualquer outro líder nazista ousou aparecer em público. É que tinham sido muitos os berlinenses a revelar de indisfarçável maneira o seu descontentamento pelo sucedido. Os burocratas nazistas tinham sido acolhidos pela multidão, em vários pontos de Berlim, aos gritos de “Obrigado ao nosso líder!”, e só num quarteirão haviam sido presas trinta pessoas por motivo de “comentários subversivos”.

Nesse interim, a situação de Rommel na África vinha causando a mais profunda ansiedade. Quanto mais séria se punha a posição, maiores eram os esforços de Goebbels para depreciar as vitórias dos Aliados. Mesmo depois de terminada em desastre a campanha tunisiana, a imprensa alemã declarava que as potências do Eixo haviam sofrido apenas um ligeiro “arranhão”; que a resistência na África tinha retardado a invasão aliada por muitos meses “decisivos”, o que, inversamente, dera tempo ao Eixo para reorganizar e fortalecer a sua frente sul.

A essa manobra tenaz de propaganda, porém, o povo alemão não reagiu segundo a expectativa das altas esferas: os resultados da campanha da Tunísia foram interpretados como uma autêntica derrota, e não um simples “revés”. Nada restava, praticamente, do que eram outrora os orgulhosos exércitos do Eixo na Tunísia! As perdas no mar, durante a campanha, tinham sido igualmente consideráveis.

O número de aviões abatidos pelos Aliados – chegou a 99 em um só dia – era nada menos que aterrador. E a derrota era tanto maior, quanto é certo que as unidades aniquiladas ou capturadas contavam-se entre as melhores de que a Alemanha dispunha. O lendário Afrika Korps de Rommel passara ao estado de simples memória. A divisão Hermann Goering sofrera tremendas baixas.

Até os otimistas inveterados começaram a pôr em dúvida o êxito da guerra. E as próprias anedotas que circulavam eram agora de um humor lúgubre, sinistro: “Vá gozando a guerra, que a paz vai ser medonha” – e outras do mesmo estilo… Contava-se a anedota daquele homem que a explosão de uma bomba expulsara de casa, e que deu volta a todos os alfaiates de Berlim em busca de um terno novo.

Não conseguindo achá-lo em parte alguma, desabafou por fim neste brado: “E tudo isto por causa de um único homem!“. Conduzido à presença do juiz, perguntou este quem era o tal “único” homem. Resposta: “Churchill, é claro! A quem julgava Vossa Excelência que eu me referia?…”

Outra anedota corrente era a do otimista e do pessimista. Dizia o otimista: “É uma coisa terrível – mas vamos perder esta guerra.” Réplica do pessimista: “Sim, sim, mas quando?!”

Não houve nada de que Goebbels não lançasse mão para deter esta maré de derrotismo. É bem verdade que não teve êxito por aí afora, mas no curso dos seus esforços descobriu nova técnica para levar o público a esquecer o que estava se passando nos campos de batalha: consistia a técnica em dar uma má notícia… com outra ainda pior!

Há muito tempo vinham dizendo que os gêneros alimentícios seriam mais uma vez reduzidos na Alemanha; mas essa medida restritiva fora adiada o mais possível. Tratava-se de uma decisão particularmente difícil de tomar, em vista de um discurso feito por Goering em 1942, e de que todo o mundo se lembrava perfeitamente no Reich.

Nesse discurso, o líder prometera positivamente que os gêneros, que acabavam de ser aumentados, permaneceriam no mesmo nível, e talvez fosse até possível aumentá-los mais.

A 10 de maio anunciou-se, sem mais nem menos, que durante o período de racionamento seguinte a quantidade de carne sofreria um corte superior a 85 gramas por semana. As discussões rebentaram, veementes. A ira e o ressentimento gerais subiram de ponto… e a memória do desastre da Tunísia se apagou!

À medida que se agravava o problema da alimentação, as pessoas eram forçadas a ficar numa fila muitas horas, todos os dias, para comprar nem que fosse um pão. Podia-se conseguir peixe uma vez por mês. Habitualmente, só encontravam três variedades de vegetais nos mercados, e o abastecimento era por vezes tão precário, que nem por eles valia a pena esperar.

O crime recrudesceu. Roubavam-se cartões de racionamento, e os autores do furto eram com frequência operários meio esfaimados, que não teriam sequer hesitado diante da violência, para obter alguns escassos cupons de pão. Nestas condições, o mercado negro assumiu, como não podia deixar de ser, grandes proporções, e a sua atividade era só mais um sinal do afrouxamento generalizado do moral de um país em ruínas. Podia-se obter fosse o que fosse no mercado negro, contanto que se tivesse com que pagar os preços exorbitantes que se pediam. O café custava 300 marcos, o quilo, a manteiga 120 marcos, e os cigarros, qualquer coisa entre 50 pfennigs e 1 marco cada um.

Durante o primeiro semestre de 1943, a desintegração do moral foi tão vasta, que raros alemães se mantiveram no respeito da lei. Cada qual tinha a sua culpa na consciência, quer porque houvesse feito um pequeno negócio escuso em alguma loja, quer por ter comprado a preços de mercado negro. E o dinheiro pouco valor tinha, uma vez que quase nada havia para comprar. Ninguém já não perguntava: “Preciso disto ou daquilo?” mas antes, simplesmente: “O que há para comprar?”

Um dos problemas que se tornavam mais difíceis em Berlim, era o da habitação. Tornara-se praticamente impossível alugar um apartamento. Todavia, a partir da primavera de 43, o problema se agravou muitíssimo, devido às devastações cada vez maiores provocadas pelos ataques aéreos.

O Fim do III Reich

No começo de 1943 os alemães dotados de bom-senso começaram a compreender que, como nação, estavam completamente abandonados. As esperanças de vitória se tinham quase de todo dissipado; e o medo da derrota e das suas consequências não seria por certo o motor mais apropriado para manter em marcha acelerada a máquina de guerra. Até mesmo pessoas desprovidas das chamadas informações de “fonte segura” começavam a pensar no que haviam de fazer no caso de um colapso final. Muitos inquiriram das possibilidades de mandar as respectivas famílias para algum lugar mais calmo do país, a viver com parentes.

Começavam já a notar-se os sinais exteriores da pura e simples exaustão física; os resultados de uma alimentação empobrecida e ministrada por conta-gotas, iam-se tornando patentes. Ouviam-se nos centros de negócios referências aos operários que caíam sem sentidos, agarrados às suas máquinas; vinha o médico da fábrica examiná-los, e a conclusão era invariavelmente a mesma: carência de alimentação adequada e de repouso.

Pelos meados de janeiro de 1943, o Dr. Goebbels lançou nova campanha, destinada a ofuscar os irrecusáveis efeitos da invasão do Norte da África, e as derrotas sofridas na Rússia; mas a desconfiança na propaganda alemã em geral, e em Goebbels em especial, havia-se intensificado progressivamente, sobretudo entre os soldados. O Ministro da Propaganda apelava agora para a mobilização total dos recursos nacionais da Alemanha.

A despeito de quanto sucedera, argumentava, o povo alemão ainda permanecia por assim dizer com um pé nos tempos de paz. “Toda a gente que observava a caça às frivolidades e bugigangas nas lojas, pelo Natal, e as longas filas em frente das bilheterias das casas de espetáculo, sabia que aquilo era verdade. Ora, a guerra punha em jogo a própria vida. Não podiam ganhá-la em frações, meia vitória, ou mesmo três quartos de vitória! A guerra era total, e a vitória só podia ser total, ou não seria vitória.”

Os civis alemães não poderiam continuar procedendo como se tivessem o privilégio de consagrar o seu tempo livre aos esportes, ao rádio, à bebida, ao teatro e ao cinema; a nova mobilização destinava-se a pôr termo a toda e qualquer atividade suntuária. Fechados todos os estabelecimentos comerciais que não fossem de importância capital, poupar-se-iam mão-de-obra, gás, luz e matérias-primas.

Por trás desses objetivos anunciados, podia-se descortinar outro propósito: era preciso manter o público alemão tão ocupado, que nem tempo tivesse para pensar nas derrotas sofridas na frente russa e na África.

Não tardou muito que o fechamento das lojas se tornasse um fato. Alguns dos mais conhecidos restaurantes de luxo de Berlim cerraram as portas – com a maioria das lojas de antiguidades, joalherias, perfumarias e movelarias.

Nos bastidores, deram-se, é claro, violentas cenas de rivalidade entre donos de restaurantes. (A proibição do luxo fora naturalmente concebida para o povo em geral, mas não para os grandes… como sempre acontece.) Dizia-se à boca pequena que Goebbels arranjara as coisas de modo que os “cidadãos indignados” apedrejassem alguns restaurantes de luxo, de que eram proprietários certos indivíduos de influência no Partido Nazista, servindo-lhe assim as demonstrações públicas de pretexto para dar cabo do negócio aos mesmos camaradas. Paralelamente correu o boato que Herr Goering, após uma luta encarniçada, conseguira ainda salvar um desses restaurantes para serviço da sua clientela de oficiais.

O fechamento de todos esses estabelecimentos causou maior indignação do que a princípio se havia esperado. A medida, com efeito, prejudicava muito os interesses da classe média. A convicção geral era que tudo aquilo se fizera, não tanto para intensificar o esforço de guerra, mas para que os patrões do Partido pudessem se apropriar de uma larga parte dos suprimentos ainda disponíveis – com fins de uso exclusivo e pessoal.

A lição do Nazismo

Muitos historiadores, após a guerra, afirmaram que a tomada do poder pelo nazismo era um fato único de retorno à barbárie na História da Humanidade. Certamente discípulos destes mesmos historiadores afirmaram isto também, a respeito do stalinismo, quando a URSS se decompôs. Mas a atualidade, com tristes exemplos como o genocídio bósnio, nos ensina que estes casos de retrocesso são muito frequentes. Mesmo se não quisermos acreditar ou lembrar estes repetidos retornos à barbárie fazem parte de nosso progresso.

Theodor Wiesengrund Adorno, filósofo alemão, nascido no início do século XX, começa seu texto Educação após Auschwitz escrevendo que “a exigência de que Auschwitz não se repita é primordial em educação”. Este conceito de educação vai além da simples alfabetização escolar que desenvolve a lógica e a razão. O homem tem que aprender a ser autônomo e ele só o consegue com o conhecimento filosófico. A filosofia permite desenvolver a consciência moral e, assim, saber diferenciar, universalmente, o certo do errado.

Esta Razão Universal, baseada na moral, é fundamental para a criação de uma democracia absoluta: na qual realmente haja justiça e liberdade. Na nossa época, ainda não existe uma verdadeira democracia. Nossa sociedade é fundada na autoridade não justificada. E é ela que faz com que aconteçam abusos. Os que têm poder fazem de tudo para que a ordem social não mude. Usam os outros homens como animais sem consciência proibindo-os de pensar.

O exemplo mais evidente disto é o que está acontecendo nos países muçulmanos nos quais as escolas são destruídas, nos quais existem leis contra as pessoas que ousam criticar seu sagrado Alcorão. A intolerância e o fanatismo baseiam-se na ignorância do povo. O homem está sendo cada vez mais facilmente utilizado por uma ideologia, como no fascismo. Para deixar de ser um mero objeto da ordem social o homem precisa tomar consciência de seu estado e ter vontade de mudar. A consciência humana só poderá desenvolver-se quando o homem se liberar de todas as suas angústias passadas. A memória aparece assim como instrumento primordial para a liberdade.

A memória permite que entendamos o presente num contexto, num processo histórico. Marx criou o materialismo histórico baseando-se no estudo do desenvolvimento da civilização: a necessidade do conflito para que haja progresso. Por existir um processo histórico evidente Auschwitz não pode ser analisado como um fato único e fora de um contexto. Se Hitler veio ao poder foi porque estava empurrado por uma massa descontente e uma elite reacionária. Como o mostra Cohen em seu filme A arquitetura da destruição, Hitler não é a personificação do nazismo. Ele é a personificação da angústia do povo. A maior parte do povo alemão já era antissemita e, de certa forma, fascista antes do nacional-socialismo. O nazismo só foi a concretização de seus desejos mais profundos.

A interrogação que poucos fazem mas que é essencial para entender esta época é: foi Hitler quem manipulou a História ou foi Ela quem o usou como marionete ? Este ódio que tinham os alemães do resto do mundo não é, como muitos o pensam, só fruto da crise de 1929, nem do DIKTAT de Versalhes, nem do pangermanismo de Bismarck. Nenhum evento preciso marca a origem desta ideologia. Ela provém de uma degeneração progressiva do capitalismo que culminou na aparição de regimes capitalistas monopolistas autoritários: mais simplesmente, regimes fascistas.

Como já o tinha entendido Lênin, em Imperialismo, o estado supremo do capitalismo, o mundo capitalista não conseguia, e ainda não consegue, mais suportar seus excedentes humanos e materiais. Adorno mesmo, no texto que já citamos, com ironia para esconder o horror de sua observação, diz que para limitar a explosão demográfica há “contraexplosões” que são “a matança de populações inteiras”. Mas, de certa forma, é o que realmente aconteceu e acontece.

A Alemanha dos anos 1930 passava por uma grande crise: desemprego, fome, miséria… Havia um excedente demográfico que piorava a situação pois era muita mão-de-obra para pouco emprego. Assim o extermínio dos judeus, mesmo se não tenha sido econômica a razão do genocídio, permitiu que a balança demográfica se estabilizasse. Este mecanismo de “contraexplosões” e explosões não é passado. Com a grande popularidade dos partidos de extrema direita na Europa, discursos antissemitas nos quais os estrangeiros são tidos como culpados pela falta de empregos tornam-se cada vez mais frequentes.

Esta grande popularidade dos partidos de extrema direita deveria ser considerada uma aberração histórica após a Segunda Guerra Mundial. Diferentemente do que pensava Hegel, o retrocesso não leva ao desenvolvimento da consciência humana, pela percepção do caminho do razão. Um processo histórico pode acontecer e reacontecer sem transformações até o homem ter coragem de enfrentar seus medos. Não adianta tentar mudar a sociedade se o homem não fizer um esforço para desenvolver sua consciência. Ele tem que lutar, desde a infância, contra os traumas das gerações passadas. Mas num mundo no qual é cada um por si por que os homens iriam preocupar-se em ser solidários?

No fundo, o problema de nossa civilização somos nós mesmos. Guardamos todas as nossas fraquezas no nosso inconsciente, como o demonstra Freud. Independentemente dos avanços tecnológicos e culturais, se o homem não se liberar de suas pulsões sempre haverá o retorno à Auschwitz. Toda nossa História será, inexoravelmente, uma fatalidade se o homem não conseguir vencer seu inconsciente. Pois ele é o refúgio de todos os nossos medos e traumas. E é justamente neles que se funda o nazismo. A propaganda nazista manipulava as angústias e os desesperos dos alemães tornando-os ainda mais agressivos contra os judeus, aceitando leis absurdas sem reclamações: proibição do casamento entre judeus e alemães.

O nazismo, mas também todas as outras ideologias ou crenças racistas e antissemitas, fez com percebêssemos como ainda estamos próximos do animal. A xenofobia em geral defende a tese que a lei do mais forte prevalece, colocando assim nossa civilização na etapa mais primitiva do desenvolvimento humano. O progresso tecnológico é apenas um véu muito fino que nem consegue esconder o fato do homem não ter evoluído moralmente. A ciência não escapou da perversão: os médicos foram os primeiros a defender a superioridade ariana. O objetivo megalomaníaco do nazismo de criar uma raça superior teve que não só produzir humanos clinicamente perfeitos como também destruir os debilitados. Este culto da perfeição é responsável pela importância da escultura nesta época e pela valorização artística do harmonioso e do poder.

No fundo, o que melhor mostra o que foi o nazismo é o título do filme de Cohen, “A arquitetura da destruição”. Esta contradição absurda e perigosa entre o que se planeja construir com o ato da destruição é a definição do nazismo. Pode se dizer que Hess, diretor do campo de Auschwitz, foi um gênio das técnicas da morte criando ótimos métodos para matar.

O que é mais grave é que isto ainda acontece: na Argélia ocorrem horríveis torturas. E o mais irônico é que algumas pessoas como Hess, mas existem muitos outros, se dão de corpo e alma para elaborar planos, para encontrar formas eficientes e econômicas de matar. Aragon não estava tão errado quando dizia que “preferia lutar contra um urso do que contra um homem”.

No entanto a maior dificuldade na hora de criticar uma ideologia como o nazismo é que não podemos afirmar que não pensavam racionalmente. Sim, eram lógicos e racionais. Mas, não se baseavam na realidade. Eles eram racionais mas perversos. Os nazistas desviaram a razão de seu principal objetivo: a passagem da ignorância ao conhecimento, por isso não podemos dizer que eram ignorantes. Os nazistas apenas eram monstros que usavam dos meios mais perversos para atingir suas metas. Manipulavam o homem como um objeto, é muito correta a expressão de Adorno quando define a consciência humana como uma “consciência coisificada”.

O que há de mais perverso no nazismo é que ele ainda não virou passado pois os homens não tem coragem de colocar o ponto final nesta aberração histórica. O nazismo ainda existe no nosso cotidiano, em pequenos grupos ou grandes partidos. Devemos sempre nos informar para evitar que haja um movimento nazista. Já pensaram se um dia eles ganharem?

Como disse Primo Lévi, historiador francês: “mesmo se compreender o nazismo é impossível, conhecê-lo é necessário pois o que aconteceu pode recomeçar”.

Artigo escrito por João Alexandre Peschanski - Jornalista, formado pela PUC-SP.

A Guerra Fria

Em 1949, são criadas a República Federal da Alemanha (RFA, ou Alemanha Ocidental), de regime capitalista, e a República Democrática Alemã (RDA, ou Alemanha Oriental), socialista. Durante o governo do primeiro-ministro democrata-cristão Konrad Adenauer (1948-1961), a Alemanha Ocidental conhece um período de prosperidade, principalmente em função da ajuda econômica norte-americana do Plano Marshall.

A Alemanha torna-se o centro do conflito entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. Em 1948, os soviéticos ordenam o bloqueio de Berlim, que é rompido por uma gigantesca ponte aérea dos Estados Unidos. Uma revolta de trabalhadores em Berlim Oriental é esmagada pelo Exército soviético em 1953.

Em 1955, a Alemanha Ocidental ingressa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental. A Alemanha Oriental reage ingressando, no mesmo ano, no Pacto de Varsóvia, a aliança militar liderada pela URSS. Em 1961, as autoridades orientais constroem o Muro de Berlim para deter o fluxo de refugiados para o Ocidente.

O processo de aproximação entre as duas Alemanhas inicia-se no final da década de 60, estimulado pelo chanceler ocidental Willy Brandt, do Partido Socialdemocrata. Em 1973, RDA e RFA entram na Organização das Nações Unidas (ONU) e se reconhecem mutuamente no ano seguinte. Na Alemanha Ocidental, os democrata-cristãos voltam ao poder em 1982 com a eleição de Helmut Kohl, que substitui o socialdemocrata Helmut Schmidt.

Fim do Muro de Berlim

O dirigente alemão-oriental Erich Honecker, no poder desde 1971, resiste à onda de liberalização no bloco comunista deflagrada em 1985 pelo dirigente soviético Mikhail Gorbatchov.

Em 1989, milhares de alemães-orientais passam para a Alemanha Ocidental por intermédio da Hungria e da Áustria. Em outubro, manifestações pró-democracia em Leipzig levam o Partido Comunista alemão-oriental a substituir o linha-dura Honecker por Egon Krenz.

Em novembro, a queda do Muro de Berlim abre o processo de reunificação: são marcadas as primeiras eleições livres da RDA. Em 1990, a Aliança pela Alemanha, favorável à unificação, vence as eleições; Lothar de Mazière é nomeado o primeiro-ministro da Alemanha Oriental.

Impulsionada por Kohl, realiza-se a unificação monetária (julho) e a política (outubro), em 1990. O Exército alemão-oriental é extinto e o Parlamento unificado ratifica o tratado da União. Kohl torna-se o chanceler da Alemanha unificada.

Alemanha Unificada

A Alemanha paga um preço alto pela unificação. A desmontagem do parque industrial da parte oriental provoca um desemprego maciço, que repercute em todo o país. As altas taxas de juros fixadas pelo Bundesbank (banco central) provocam recessão. Num clima social tenso, os imigrantes sofrem atentados de grupos neonazistas. Em 1993, o Parlamento restringe o direito de asilo político.

As garantias sociais, que eram o orgulho da DGB – mais forte central sindical da Europa –, são revisadas em nome da melhoria da competitividade da indústria alemã no cenário mundial. As dificuldades da Alemanha repercutem nos adiamentos sucessivos de medidas de maior homogeneização econômica entre os membros da União Europeia (UE), como é o caso da moeda única (adiada para 1999).

Em 1994, Helmut Kohl e o CDU (União Democrata-Cristã) permanecem no poder, em coligação com o CSU (União Social-Cristã) e o FDP (Liberal-Democrata). Os social-democratas do SPD, segundo partido do país, não conseguem se afirmar como alternativa à coligação de centro-direita. Em maio de 1994, as duas casas do Bundestag (Parlamento) elegem Roman Herzog, do CDU, como presidente. Em outubro, mesmo perdendo votos, a coligação de Kohl reelege-se pela quarta vez consecutiva.

A economia alemã cresce 1,9% em 1995 contra uma projeção de 2,9% e o nível de desemprego chega a 10,8% em janeiro de 1996. O déficit, também fica acima do esperado: 3,6% do PNB, dificultando atingir a meta de índice inferior a 3% do PNB até 1997 – a precondição para os países da União Europeia entrarem no terceiro estágio preparatório para a adoção da moeda única. Diante desse quadro, o governo de Helmut Kohl aprova, em abril de 1996, um programa de austeridade, incluindo incentivos a microempresas e cortes na previdência social.

Entre outras medidas, estão o aumento da idade para aposentadoria das mulheres (de 60 para 63 anos) e a redução de salário nas licenças por motivos de saúde. A manifestação de protesto dos sindicatos, uma das maiores da Alemanha pós-guerra, leva cerca de 350 mil pessoas para as ruas de Bonn. Até início de setembro de 96, o Parlamento alemão não havia sancionado a lei.

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