Extratos do livro “I Flew For The Fuhrer”, de Heinz Knoke
Heinz Knoke foi um dos mais importantes pilotos da Alemanha nazista, e este registro dramático das suas experiências, ilustrado com suas fotos pessoais, tornou-se um clássico entre as memórias da aviação. Ele se uniu à Luftwaffe na eclosão da guerra, subiu ao posto de comandante, e recebeu a Cruz de Ferro. Knoke conta vividamente como foram suas batalhas aéreas, e capta a sua total desolação à derrota da Alemanha.
31 de janeiro de 1940
A 8 de janeiro de 1940 sou designado a ocupar uma vaga na Academia Militar (Kriegschule). A vida aqui não é fácil para os candidatos a oficial. As formações de parada prosseguem com contínua rigidez, na melhor tradição prussiana; mas agora eu já estou acostumado a isto. “Aqui você tem que ser forte”, eles continuam a nos dizer, “tão forte quanto o aço Krupp. Qualquer um que fraqueje será eliminado”.
No entanto, nossa vida se resume somente em intervalos entre o pátio de paradas e a sala de leitura. Temos que estudar e trabalhar sobre os livros no alojamento, geralmente até tarde da noite. Possuímos instrutores, oficiais, sargentos e técnicos de primeira classe e eles nos ensinam tudo que podem sobre tópicos como: táticas de combate no ar e no solo, aeronáutica, engenharia, armaria e meteorologia. Um curso de liderança júnior também faz parte da grade.
Agora estamos esperando somente que o tempo se torne mais estável para então começar nosso treino de vôo.
17 de fevereiro de 1940
Às 13:05h tenho minha primeira lição de voo em um Focke-Wulf 44, um avião de treino com duplo controle, cujas letras de identificação são TQBZ. Van Diecken é meu instrutor.
23 de fevereiro de 1940
Semana passada completei 35 voos de treino. O solo está coberto com neve profunda, portanto as aeronaves foram equipadas com esquis no lugar das rodas.
O trigésimo sexto vôo é um teste: estou com o Tenente Sênior Woll, instrutor-chefe do curso. Ele faz pouco caso dos meus progressos no vôo.
1º de abril de 1940
Completei 83 voos de treinamento. O Tenente Sênior Woll testou-me de novo nas últimas duas decolagens. “Você certamente não pode chamar isto de um pouso: eles são só vagamente melhores do que uma queda controlada”. Ele balança a cabeça.
Junto a isso eu também me enfiei em uma enrascada enquanto fazia um circuito sobre o campo. O avião estava sem controle, depois que eu me enrolei com o manche, afogador e leme. Entramos em parafuso antes que eu tivesse tempo de notar, descendo em direção a uma igreja. Woll agarrou o afogador e recuperou o controle do avião, virando-se para mim, logo a seguir e gritando: “O que você está tentando fazer? Está tentando transformar minha mulher em viúva? Maldito idiota!”
Será-me dada mais uma chance, positivamente a última chance, depois de dez novas lições com Van Diecken. Os alunos que falham em completar o curso de vôo na Academia Militar, são designados para o Comando Antiaéreo (Flakartillerie). Um prospecto amargo.
2 de abril de 1940
O Sargento Van Diecken me leva para as minhas últimas dez lições hoje. Todos os outros alunos do curso já decolaram para seus voos solo há muito tempo. Amanhã será o dia do meu teste final com o Tenente Sênior Woll.
O grupo de instrução sob tutela de Van Diecken inclui três outros candidatos a oficial além de mim: Geiger, Menapace e Hain. Nós quatros dividimos o mesmo alojamento.
Geiger é da Alemanha do Norte, reservado, mas intensamente bem preparado. Seu pai é um trabalhador braçal. Uma vaga conquistada na “Escola Adolf Hitler” deu a este rapaz muito inteligente sua chance. Tendo obtido sua matrícula Sênior, ele está apto a ser comissionado como oficial.
Menapace e Hain são austríacos. Ambos vieram das montanhas do Tirol. Sepp Menapace é o melhor de nós em vôo, parecendo que pilota instintivamente. Pequeno, escuro e muito forte, ele é um tipo que vive ao ar livre. Entretanto ele é tímido e socialmente inapto e, no chão, seu corpo musculoso parece desajeitado, como um daqueles robôs dos filmes; mas uma vez nos céus, ele está em seu elemento, movendo-se tão sensivelmente quanto um gato. Sua aptidão natural o permite controlar o avião como se tivesse feito isso por toda a sua vida.
Hain voou seu solo depois da sua quadragésima decolagem com Van Diecken. Todos os três observaram minhas últimas instruções e me encorajaram. Até mesmo Geiger abriu a boca para dizer meramente: “Você vai se dar bem”.
3 de abril de 1940
Precisamente às 13:00h decolei para meu primeiro voo solo.
“Quando você se aproximar para o pouso, é melhor você nivelar dez pés para cima do que um pé para baixo da terra!”, grita sua última advertência o Tenente Sênior Woll, sobre o barulho do motor, e sorri sardonicamente enquanto se afasta.
Aperto o cinto de segurança, abro o afogador lentamente, começando a me mover, seguro o manche para frente enquanto a velocidade aumenta. O TQBI praticamente decola sozinho e estou subindo antes que o fim da pista se aproxime.
Faixas vermelhas nas asas avisam a todos que possam se interessar: “Cuidado! Este é um aluno no seu primeiro solo. Saia de perto se você dá valor à vida”.
Por vários minutos eu circulo o campo. A tensão gradualmente se dispersa e começo a relaxar. Não é necessário fazer um grande esforço para manter o avião sob controle. Olho para baixo e vejo a sombra das nuvens se delineando sobre a terra. Estou realmente voando, livre como um pássaro.
Já é hora de pousar. Começo a planar e o chão vem de encontro a mim. Afogador para trás, nivelado, cuidadosamente agora; e… Opa! Estou de volta à terra firme e, de alguma forma, a aeronave não se destruiu.
Meu primeiro pouso solo não pode ser descrito como um bom pouso, nem mesmo nos quatro seguintes consegui melhorar muito. Mas, pelo menos, as rodas não se desprenderam.
10 de maio de 1940
Nossos exércitos, na frente oeste, iniciaram a grande ofensiva contra a França, mas eu temo que vá me atrasar para estar na ação.
16 de maio de 1940
Várias semanas estáveis de bom tempo nos permitiram fazer progressos reais em nosso treinamento. Completei praticamente 250 voos. Agora estamos sendo adestrados em acrobacias aéreas no Focke-Wulf 44 e no Bücker Jungmann. Também aprendemos a voar em aeronaves operacionais, interceptadores obsoletos e tipos de reconhecimento de curto alcance, aviões como o Arado 65 e 68 e os Heinkel 45 e 46. Usamos o Junkers W. 34 no qual Kohl e Hünefeld voaram pelo Atlântico, e um Focke-Wulf Weihe especialmente adaptado para voo de longo alcance, a fim de prática de navegação.
Ontem eu estava em um vôo à leste da Prússia em um remendado e velho GO. 145 quando o motor falhou. O duto principal de abastecimento estourou. Estava somente a poucas centenas de pés naquele momento, e não havia grandes oportunidades para encontrar um campo de emergência para uma aterrissagem forçada. Desci em um campo cultivado. O trem de pouso se despedaçou, o avião capotou e tive que sair da carlinga me arrastando, com um corte na cabeça.
Retornei a base de trem. Tenho uma grande bandagem na cabeça. As pessoas na plataforma me olham, evidentemente assumindo que eu deva ter sido ferido na guerra contra a França. É embaraçoso admitir que eu só caí de um avião de treinamento.
19 de maio de 1940
Parece que estou emaranhado em uma fase de má sorte. Hoje meu trem de pouso quebrou quando tentava pousar em Altdamm. Um vento de través muito forte estava soprando no momento do pouso, e ele se mostrou fatal para o velho KL. 35.
Mais uma vez sou obrigado a voltar de trem.
16 de agosto de 1940
Finalmente tenho meu certificado de piloto e o período de treino está encerrado. No dia 1º de junho fui promovido a cabo.
Neste meio tempo, a guerra continua. A França rendeu-se em junho. Os franceses não puderam fazer muito contra a moral superior e os equipamentos modernos dos exércitos alemães. Eles tiveram que usar armamentos que já eram obsoletos há tempos; de fato, algumas de suas peças de artilharia pesada foram utilizadas durante a Primeira Guerra Mundial.
Aparentemente as divisões britânicas mantiveram-se mais ou menos intactas, embora tenham perdido uma vasta quantidade de material em Dunquerque. Habilidosas operações por parte do Alto Comando Britânico possibilitaram à maioria das suas unidades o retorno à ilha sem sofrer pesadas baixas. A Força Aérea Alemã perdeu, evidentemente, uma oportunidade de ouro ao deixá-los fugir de nossas mãos em Dunquerque.
Os britânicos não parecem estar suficientemente armados para combater em uma guerra, e a Força Aérea Real conduz suas operações em uma escala muito pequena. Não consigo entender por que não pressionamos imediatamente nosso avanço contra a Grã-Bretanha: significaria, certamente, o fim da guerra.
A Força Aérea Francesa também foi incapaz de ter uma postura decisiva na luta. Aqui, como na Polônia, a Luftwaffe deu outra demonstração de superioridade incontestável em seu equipamento e treinamento. Isso não significa, contudo, que faltasse coragem aos pilotos britânicos e franceses. Significa, outrossim, que eles operavam sob as piores condições possíveis.
Na minha opinião, a velocidade do colapso francês se deve, fundamentalmente, a baixa moral em suas divisões de combate. Os oficiais franceses admitiram, subseqüentemente, o mesmo, com amargura. O soldado francês de 1940 não era nada parecido com seu antecessor, o “poilu”, que lutou tão tenaz e bravamente na defesa de cada polegada de sua pátria na Primeira Guerra Mundial. Creio que nos últimos vinte anos, a França descansou tranqüilamente nos louros da vitória de Versailles. Este é o grande perigo da vitória em qualquer guerra.
A moral do povo alemão em casa é muito bom – talvez bom até demais.