O III Reich

Chamou-se III Reich pois havia o I Reich (O Sacro Império Romano Germânico que Oto I fundou em 962 e durou até 1806); e o II Reich, nascido em 1871 sob Guilherme I, com a unificação alemã.

O III Reich foi a designação adotada por Adolf Hitler para o grande império formado pela Alemanha Nazi e as nações por ela conquistadas para servir sob o domínio da raça Ariana preconizada por ele. E segundo Hitler, deveria durar mil anos.

Hitler suprimiu o Estado federalista. Os Estados receberam chefes Por ele indicados. Dissolveu a Assembleia do Reino. O país adotou a bandeira do Partido Nazista, com a suástica. Os membros do partido ocuparam todos os cargos da administração e a vida política reduziu-se a manifestações anuais do nazismo – os congressos realizados em Nuremberg. O Parlamento, todo nazista, reunia-se conforme a vontade de Hitler de ser aclamado.

Os judeus, duramente perseguidos, foram excluídos da administração, ensino, jornalismo, atividades artísticas e literárias. Passaram à condição de súditos; perderam os direitos civis, o acesso a lugares públicos; casamento de “ariano” com judeu passou a ser punido como crime de profanação racial. A partir de 1938, a violência cresceu: espancamentos, destruição de sinagogas e casas, uso de sinais identificadores e proibição de deixar o país. Mesmo assim, Einstein, Thomas Mann e muitos outros conseguiram fugir.

Milhares de obras foram excluídas dos museus ou destruídas, como arte degenerada: abstracionismo, impressionismo, cubismo.

O Estado intervinha moderadamente na economia. Procurava controlar o mundo do trabalho e orientar a produção sem alterar basicamente a estrutura capitalista. Integrou as atividades de modo a harmonizar a produção. O Estado fixava a jornada de trabalho, os salários e os lucros, mas também velava pela formação profissional e pelo lazer. Suprimiu as liberdades sindicais e o direito de greve.

No campo, o Estado nacional-socialista criou o Erbhof, domínio familiar de menos de 125 acres (menos de 21 alqueires), inalienável, indivisível e transmissível somente a um só herdeiro.

Realizou-se uma frente de trabalhadores, operários e camponeses e uma frente de patrões, em estilo corporativo, tudo supervisionado pelo Führer. As grandes empresas foram protegidas; impôs-se a formação de cartéis e acelerou-se a concentração industrial.

O novo Reich buscou o desenvolvimento com base em planos quadrienais. No primeiro Plano, iniciado em 1933, realizaram-se obras públicas para absorver desempregados: aeroportos, estradas, ferrovias, tudo com finalidade estratégica. O desemprego desapareceu em 1937. Mas o grande trunfo estava no desenvolvimento secreto da indústria bélica, que provocou a retomada industrial.

A falta de recursos monetários levou Schacht, ministro da economia de 1934 a 1937, a obrigar o pagamento de importações com produtos da indústria alemã. Isto correspondia às necessidades dos países da Europa central, exportadores de produtos primários.

O Segundo Plano quadrienal, a partir de 1936, agora sob a direção do marechal Goering, tinha Por finalidade libertar a Alemanha de matérias-primas importadas. Retomou-se a exploração de minérios, avançou-se na pesquisa têxtil e na produção de borracha, carburantes e petróleo. Em 1939, a indústria alemã é a segunda do mundo. Mas faltam minérios para a siderurgia. A agricultura fornece 75% do que o país precisa. A indústria bélica exige mais e mais matéria prima. A indústria de bens de consumo ficou prejudicada, tal como o comércio exterior, reduzido à metade.

Havia limites para essa autarquia – essa autossuficiência econômica. A acumulação de estoques levaria necessariamente à tese expansionista, à busca do espaço vital, sobretudo na Europa central. Essa necessidade vinha a calhar para a propaganda nazista em torno da questão nacional.

As ações do III Reich

A Alemanha transformou-se em um Estado nacionalista: não-arianos e oponentes do nazismo eram excluídos da administração, e o sistema judiciário tornou-se subserviente ao nazismo, com julgamentos secretos que tinham uma ampla definição de traição e determinavam execuções sumárias.

Campos de concentração foram criados para receber prisioneiros políticos, sendo mais tarde utilizados para reunir as chamadas “raças impuras” como judeus, ciganos, eslavos e muçulmanos, sem contar os homossexuais e os deficientes físicos e mentais. Inicialmente, campos de trabalhos forçados tornaram-se locais de extermínio de experiências biológicas cruéis, com câmaras de gás e fornos crematórios. Todos os outros partidos políticos da Alemanha foram liquidados e o Nacional Socialismo foi declarado partido único.

O antissemitismo foi formalizado pelas leis de Nuremberg. As igrejas protestante e católica foram atacadas. O movimento Juventude Hitleriana foi criado para doutrinar os jovens. Grande parte dos trabalhadores industriais foram conquistados com as ofertas de emprego oriundas dos programas de rearmamento, entre outros. Boa parte da indústria passou ao controle governamental, enquanto os pequenos agricultores encontraram-se mais firmemente ligados às suas terras.

Um plano de quatro anos foi criado em 1936 para conquistar a autossuficiência em caso de guerra. Hitler reintroduziu o serviço militar obrigatório em 1935, após a devolução da Bacia do Sarre (rio na França e Alemanha, sob administração da Liga das Nações desde o final da Primeira Guerra Mundial).

Durante a primavera e o verão de 1939, fez uma aliança política e militar com a Itália e reavivou a antiga disputa pelo Corredor Polonês, assinando um pacto com a União Soviética. Em 01 de Setembro de 1939, invadiu a Polônia sem uma declaração formal de guerra, levando a Grã-Bretanha e a França a declararem a Segunda Guerra Mundial. A ocupação militar alemã de grande parte do continente europeu foi rápida e, até 1941, o território controlado pelos nazis estendia-se desde o Círculo Polar Ártico e o canal inglês até o norte da África e a Rússia.

A Grã-Bretanha foi seu principal adversário entre Junho de 1940 e Junho de 1941, quando Hitler invadiu a União Soviética. A mobilização total ocorreu no início de 1942 e a produção de armamentos cresceu, apesar dos maciços ataques aéreos a alvos civis e industriais. Sob a liderança de Himmler (1900-1945), a polícia secreta alemã, chamada SS, assumiu poderes supremos. A partir de 1943, os exércitos alemães passaram a lutar na retaguarda e, em maio de 1945, o Terceiro Reich encontrava-se em ruínas.

O Fim do III Reich

No começo de 1943 os alemães dotados de bom-senso começaram a compreender que, como nação, estavam completamente abandonados. As esperanças de vitória se tinham quase de todo dissipado; e o medo da derrota e das suas consequências não seria por certo o motor mais apropriado para manter em marcha acelerada a máquina de guerra. Até mesmo pessoas desprovidas das chamadas informações de “fonte segura” começavam a pensar no que haviam de fazer no caso de um colapso final. Muitos inquiriram das possibilidades de mandar as respectivas famílias para algum lugar mais calmo do país, a viver com parentes.

Começavam já a notar-se os sinais exteriores da pura e simples exaustão física; os resultados de uma alimentação empobrecida e ministrada por conta-gotas, iam-se tornando patentes. Ouviam-se nos centros de negócios referências aos operários que caíam sem sentidos, agarrados às suas máquinas; vinha o médico da fábrica examiná-los, e a conclusão era invariavelmente a mesma: carência de alimentação adequada e de repouso.

Pelos meados de janeiro de 1943, o Dr. Goebbels lançou nova campanha, destinada a ofuscar os irrecusáveis efeitos da invasão do Norte da África, e as derrotas sofridas na Rússia; mas a desconfiança na propaganda alemã em geral, e em Goebbels em especial, havia-se intensificado progressivamente, sobretudo entre os soldados. O Ministro da Propaganda apelava agora para a mobilização total dos recursos nacionais da Alemanha. A despeito de quanto sucedera, argumentava, o povo alemão ainda permanecia por assim dizer com um pé nos tempos de paz:

“Toda a gente que observava a caça às frivolidades e bugigangas nas lojas, pelo Natal, e as longas filas em frente das bilheterias das casas de espetáculo, sabia que aquilo era verdade. Ora, a guerra punha em jogo a própria vida. Não podiam ganhá-la em frações, meia vitória, ou mesmo três quartos de vitória! A guerra era total, e a vitória só podia ser total, ou não seria vitória.”

Os civis alemães não poderiam continuar procedendo como se tivessem o privilégio de consagrar o seu tempo livre aos esportes, ao rádio, à bebida, ao teatro e ao cinema; a nova mobilização destinava-se a pôr termo a toda e qualquer atividade suntuária. Fechados todos os estabelecimentos comerciais que não fossem de importância capital, poupar-se-iam mão-de-obra, gás, luz e matérias-primas.

Por trás desses objetivos anunciados, podia-se descortinar outro propósito: era preciso manter o público alemão tão ocupado, que nem tempo tivesse para pensar nas derrotas sofridas na frente russa e na África.

Não tardou muito que o fechamento das lojas se tornasse um fato. Alguns dos mais conhecidos restaurantes de luxo de Berlim cerraram as portas – com a maioria das lojas de antiguidades, joalherias, perfumarias e movelarias.

Nos bastidores, deram-se, é claro, violentas cenas de rivalidade entre donos de restaurantes. (A proibição do luxo fora naturalmente concebida para o povo em geral, mas não para os grandes… como sempre acontece.) Dizia-se à boca pequena que Goebbels arranjara as coisas de modo que os “cidadãos indignados” apedrejassem alguns restaurantes de luxo, de que eram proprietários certos indivíduos de influência no Partido Nazista, servindo-lhe assim as demonstrações públicas de pretexto para dar cabo do negócio aos mesmos camaradas. Paralelamente correu o boato que Herr Goering, após uma luta encarniçada, conseguira ainda salvar um desses restaurantes para serviço da sua clientela de oficiais.

O fechamento de todos esses estabelecimentos causou maior indignação do que a princípio se havia esperado. A medida, com efeito, prejudicava muito os interesses da classe média. A convicção geral era que tudo aquilo se fizera, não tanto para intensificar o esforço de guerra, mas para que os patrões do Partido pudessem se apropriar de uma larga parte dos suprimentos ainda disponíveis – com fins de uso exclusivo e pessoal.

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