Sabia que a capacidade da embarcação era de cerca de 180 homens da infantaria, preparados para o combate, mas minha lista indicava que tínhamos 200 pessoas; além de mim, não havia qualquer outro homem do 116º regimento a bordo. Além de estarmos com uma superlotação, tínhamos diversos tipos de equipamento especial, tais como grandes cilindros de cabo telefônico, um bocado de armamentos específicos para destruir minas e arames farpados, croques, lança-chamas e muito, muito mais.
Ás seis e trinta da manhã, podíamos avistar as embarcações da primeira leva, rumando para a costa. Eu estava no convés, olhando para à direita, em direção a Dog Red. Ainda não era possível escutar qualquer som de batalha, mas quando os barcos se aproximaram dos obstáculos e quando se abaixaram as rampas, ficou claro que alguma coisa muito errada estava acontecendo lá. As embarcações moviam-se lentamente, em círculos, e não havia tropas correndo pela areia. Em seguida, pudemos ouvir e ver a troca de tiros. Eu deveria desembarcar em Omaha Dog Red, mas nossa embarcação estava bem para a direita, de frente para Dog White.
O convés da frente estava lotado e estávamos começando a ser atingidos pelo fogo de armas leves. Podia ouvir algumas balas batendo contra os lados do barco. Uma embarcação própria para desembarque possui um par de rampas móveis ao longo da proa, que podem ser abaixadas quando as tropas forem para a terra. Eu deveria descer pela rampa a estibordo. Quando nosso barco entrou na área onde havia obstáculos submarinos, pareceu ter sido apanhado por uma das vigas submersas, inclinadas em sua direção. O barco resvalou na viga e houve uma explosão que arrancou completamente a rampa de desembarque a estibordo e a arremessou bem alto, fazendo com que ela caísse no mar a cerca de dezoito metros de distância. A embarcação começou a recuar. Vendo que não poderia descer pelo lado a estibordo, fui para bombordo, onde a outra rampa se encontrava inteiramente tomada pelas chamas.
Começamos a ter baixas no convés da frente, provocadas pelas armas leves e, ao me afastar do fogo, ouvi uma explosão, vi que um homem portando um lança-chamas havia sido atingido e o tanque de combustível estava em chamas. Vários homens que estavam nas imediações tinham se queimado. Reparei no rosto de um deles uma bolha dbágua que medir uns 12 cm. O homem com o lança-chamas gritava em agonia quando correu para estibordo pulando na água. Pude ver que mesmo a sola de suas botas estavam pegando fogo.
O capitão foi para o convés da frente acenando com os braços e gritando: “Todos ao mar!”
Subi no parapeito de bombordo e me atirei no mar. Havia muitos nadando a minha volta, uns morrendo e outros mortos. Explosões se repetiam a minha esquerda e vi no ar a chegada de uma carga de morteiros. Podia ver seu contorno antes que atingissem a água, onde explodiam.
A única coisa que pensava era ir em direção à terra e me reincorporar a minha unidade. Mesmo que a praia parecesse um caos, não queria ficar na água nem um pouco mais do que o necessário. Além disso, estava começando a ficar exausto e ofegante pelo esforço que fazia para nadar. Nadei um pouquinho mais e resolvi tentar ficar de pé. Milagre dos milagres, descobri que estava pisando no fundo e que minha cabeça ficava para fora da água. Que alívio. Mas no momento seguinte, ondas violentas me arrastaram do banco de areia e a água cobriu minha cabeça. Senti que estava cansado demais para nadar o resto da distância, por isso concluí que precisava me desfazer de parte da carga. Primeiro, tirei meu fuzil; em seguida, o capacete, e por fim o bornal de provisões. Ao me livrar dessa coisas, consegui nadar os próximos noventa metros e tocar no fundo.
Lá estava eu na praia de Omaha. Em vez de um soldado de infantaria bem-treinado, feroz, pronto para a luta, eu era o sobrevivente de um naufrágio, exausto, desarmado, quase indefeso.
— Robert Walker, do 116ª Regimento de Infantaria (29ª Divisão dos EUA)