A batalha de Mers Al Kébir

O Ataque ou a Batalha de Mers-el-Kébir, ocorreu em 3 de julho de 1940 e foi parte da Operação Catapulta. A operação foi basicamente um ataque naval britânico a navios da marinha francesa na base em Mers El Kébir na costa da Argélia Francesa. O bombardeio matou 1.297 soldados franceses, afundou um encouraçado e causou danos em cinco navios, com as perdas britânicas sendo de cinco aviões abatidos e dois soldados mortos.

Durante todo o mês de junho de 1940, sobre a Inglaterra não foi lançada sequer uma bomba e em julho a atividade aérea se reduz a ataques aos portos. Hitler anuncia uma desmobilização parcial do Exército alemão, através da dissolução de 35 divisões, e dá ordens a suas representações diplomáticas no sentido de não refutar as iniciativas dos agentes ingleses. Todos os seus depoimentos para os íntimos versam sobre o mesmo tema: os ingleses vão negociar, a campanha do Ocidente terminou. É então que um acontecimento dramático, a destruição de uma parte da Armada francesa, vem proclamar de maneira retumbante, a resolução britânica de prosseguir a luta por quaisquer meios.

Essa esquadra francesa, que se tornou um pesadelo inglês, foi afastada o mais possível, por seu Almirantado, das águas metropolitanas. Uma fração considerável da frota, 2 couraçados, 8 contratorpedeiros, o enorme submarino Surcouf e cerca de 200 outras embarcações secundárias, encontra-se em portos britânicos. Outra fração, um couraçado e 4 cruzadores, sob as ordens do Almirante Godfroy, ancora em águas de Alexandria; um porta-aviões e 2 cruzadores, nas Antilhas.

Os dois grandes couraçados de 35.000 toneladas em fase final de acabamento fugiram de seus estaleiros no momento da invasão da Bretanha, mas o Jean-Bart, pequeno navio sem armamento, só consegue chegar até Casablanca, enquanto o Richelieu, já equipado com seus canhões de 15 polegadas, volta a Dacar. Sete cruzadores fundeiam em Argel e a chamada Força de Combate, isto é, a esquadra mais poderosa, encontra-se no porto de Mers Al-Kébir.

Integram-na os couraçados Bretagne e Provence, o porta-aviões Commandant-Teste, 6 contratorpedeiros da classe do Terrible e, finalmente, os preciosos cruzadores de batalha Dunquerque e Strasbourg. São estes últimos, sobretudo, que justificam a inquietação do ingleses. Se a Alemanha conseguisse anexá-los ao Scharnhorst e ao Gneuseneau, alcançaria uma linha de batalha e uma equipe de corsários contra a qual seria necessário usar toda a Armada inglesa. Para livrá-la deste perigo, a Inglaterra só dispunha de duas únicas garantias: o Artigo 7 da Convenção do Armistício e o discurso do Almirante Darlan.

As condições em que foi decidida a Operação Catapulta, que pôs fora de combate a esquadra francesa, permanecem obscuras. O Almirantado desaconselhou-a. Churchill a impôs. Parece que na decisão influenciaram menos razões de ordem militar que o seu desejo de fazer ver, por um trágico gesto, a vontade inglesa de combater desesperadamente. “Maneira bem inglesa – dirá Robert Aron, historiador de Vichy – de queimar os próprios navios imolando os dos outros”. Em suas Memórias, Churchill compara-se a Danton:

“Que falta? Audácia… Se os reis coligados nos ameaçam, respondemos jogando-lhes uma cabeça de rei…”

A analogia não é evidente. No conjunto, os resultados da Operação Catapulta foram detestáveis. Mas a demonstração de energia que representou conseguiu a repercussão que dela esperava seu autor.

Na Inglaterra, a Catapulta desenvolveu-se sem dificuldades. As tripulações francesas foram surpreendidas durante o sono e as perdas restringiram-se a um inglês morto e alguns feridos. Em Alexandria, o Almirante Godfroy concordou em deixar neutralizar seus navios, que se enferrujaram no porto com os tanques vazios e as culatras de seus canhões dispostas em terra. Em Dacar, o Richelieu foi avariado, mas permaneceu utilizável. Em Mers el-Kébir, a tragédia atinge seu terrível desenlace.

De acordo com as cláusulas do armistício, a Força de Combate procedia seu desarmamento. Os navios grandes estavam amarrados ao cais. Os seis contratorpedeiros encontravam-se do outro lado da bacia, sob a alta colina que domina o porto. As luzes estavam apagadas e as tripulações ocupadas em transportar as munições para terra.

Sob o comando do Almirante Somerville, a Força H apresentou-se em 3 de julho, as 7 horas da manhã. Era constituída de um cruzador de batalha, 2 couraçados e um porta-aviões. Começou por minar a entrada do porto, em seguida enviou, pelo capitão-de-mar-e-guerra C.S. Holland, um ultimato ao Almirante Gensoul, no qual propunha uma série de opções: 1°, juntar-se à esquadra inglesa, a fim de continuar a luta contra a Alemanha e a Itália; 2° ancorar, com tripulação reduzida e sob controle britânico, em porto do Reino Unido; 3°, rumar para as Antilhas, onde seus navios poderiam ficar sob o controle dos Estados Unidos até o fim da guerra; 4°, afundar os navios; 5°, recusar todas as opções, caso em que o almirante inglês far-lhe-ia ver que dispunha de poderes e meios para destruí-los. Um prazo de 6 horas foi dado ao almirante francês para escolher.

“Como protestante e anglófilo – dirá Gensoul – meu impulso pessoal era partir com os ingleses”. Mas, consciente de que assim provocaria a denúncia do armistício e a ocupação da África do Norte, mandou responder a Somerville que repeliria a força com força. Quando foi dada a ordem de reacender as luzes, as tripulações aplaudiram, acreditando estarem retomando o combate contra os alemães.

Dez dias depois do armistício, as comunicações estavam ainda totalmente desorganizadas. Darlan devolvera a Royan o posto de comando modelo que instalara em Maintenon, perto de Paris, e havia transportado os despojos de seu Almirantado para a pequena cidade pirenaica de Nérac, onde sua irmã possuía uma propriedade disponível, podendo oferecer-lhes abrigo provisório. Gensoul limita-se a fornecer um comunicado em que, sem referir-se às outras opções, declara que uma poderosa força naval inglesa lhe concedera seis horas para afundar seus navios, e que ele tinha a intenção de resistir pela força.

Uma resposta pela qual não esperava chegou-lhe 5 minutos antes do primeiro tiro de canhão: o Almirantado francês aprovava sua atitude e ordenava-lhe rechaçar o ultimato.

Houve um momento em que Gensoul acreditou que evitaria a tragédia. Estivera disposto a mostrar a Holland as instruções secretas que de toda organização bélica francesa possuía. O Almirante Darlan, usando pela última vez a possibilidade de utilizar a codificação, lembrava que o dever permanente de um comandante era destruir seu navio antes de deixá-lo cair em mãos estrangeiras.

Holland, um oficial de cultura e simpatia francesas, a quem sua missão desgostava, voltou-se para Somerville. Este apressou-se a informar a Londres que tinha garantia de que os navios franceses não corriam perigo de ser capturados pelo inimigo. Os Lordes do Almirantado, por sua vez, mostraram-se dispostos a aceitar a promessa francesa. Mas Churchill queria sua cabeça de rei. Assim é que, às 16h26, Somerville, que prolongara espontaneamente o prazo do ultimato, recebeu o seguinte resumo churchilliano:

“Os navios franceses devem afundar-se ou os senhores devem afundá-los antes do anoitecer”.

Pouco depois das 5h30, o comandante Holland deixou o Dunquerque para levar a seu almirante a última recusa dos franceses. Quando passou defronte do Bretagne, o oficial de serviço, que não teria mais de alguns minutos de vida, prestou-lhe continência. O canhoneiro começou às 17:54 horas. Desaparelhados, os navios franceses eram verdadeiros alvos.

O Strasbourg e os contratorpedeiros Terrible, Tigre e Volta soltaram as amarras e ganharam o alto-mar, entre as minas que os ingleses haviam espalhado, as salvas que os encurralavam e os aviões que os perseguiam.

O Dunquerque tentou a mesma manobra, mas desmantelou-se depois de haver disparado 40 obuses contra o Hood. O Provence, gravemente atingido, lançou-se sobre a praia, abrindo fogo com todos os seus canhões. Um obus de 15 polegadas pulverizou o contratorpedeiro Mogador. Finalmente, o Bretagne, atingido desde a primeira salva, explodiu. O fogo cessou quando o Almirante Gensoul assinalou que todos os seus navios estavam fora de combate.

No dia seguinte, entretanto, seguindo instruções de Londres, três vagas de aviões torpedeiros tentaram em vão exterminar o Dunquerque, cujas avarias eram leves. Foi um acréscimo inútil, um castigo supérfluo sobre pequenos navios indefesos, carregados de marinheiros, e que elevou a 1.297 – dos quais 977 unicamente do Bretagne – as perdas de vidas francesas em Mers el-Kébir. Uma guerra entre a França e Inglaterra poderia ter saído dessa agressão. Por um momento, a agulha do destino hesitou. Com voz embargada de emoção, Darlan declarou:

“Fui traído por meus irmãos de armas; eles não acreditaram na minha palavra”.

Por sua ordem, os navios suspenderam as operações de desarmamento e um contra-ataque é ordenado com o Strasbourg e os cruzadores de Argel. É decidido o bombardeio aéreo de Gilbratar. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paul Baudouin, consegue conter essas medidas beligerantes e limitar a vingança à ruptura das relações diplomáticas já realizadas.

Entretanto, o ressentimento da marinha e da nação francesa duraria muito a apagar-se.

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