Submarinos de guerra

O almirantado alemão só iniciou planejamento sério para um guerra naval contra a Grã-Bretanha no inverno de 1938 quando, em um série de jogos de guerra, descobriu que era pequeno demais o número de submarinos para um ofensiva eficaz.

Em 1935, Doenitz começou a trabalhar no desenvolvimento de sua tática de “matilha” (Rudeltaktik), de acordo com a qual um grupo de submarinos de porte médio do tipo VII operaria sob um único comandante. Doenitz estimava que, para uma ofensiva eficaz contra a navegação britânica no Atlântico, seriam necessários pelo menos 300 submarinos. No início da guerra, a Marinha de Guerra alemã dispunha de apenas 56 deles em condições de serviço, dos quais apenas 23 apropriados para operações no Atlântico.

As propostas de Doenitz, de um grande aumento no número de submarinos, foram rejeitadas pelo almirante Raeder – Comandante-Chefe da Marinha de Guerra. Enquanto Doenitz acreditava que a Marinha alemã deveria concentra-se no ataque à Marinha Mercante inglesa e, dessa maneira, cortar a linha vital ultramarina, Raeder acreditava que o objetivo deveria ser a destruição da Marinha Real. Hitler apoiou Raeder e disse-lhe que ele tinha até 1946 a fim de preparar a Marinha para um acerto de contas final com os britânicos. De acordo com essa doutrina, o almirantado alemão(OKM) deu preferência a um número menor de submarinos de maior porte, fortemente armados e com raio de ação mais longo. Karl Doenitz acreditava que esse esquema, delineado no “Plano Z”, era fundamentalmente falho, uma vez que demoraria muito construir uma esquadra suficientemente forte para engajar a Marinha de Guerra britânica, ao passo que um programa de emergência de construção de submarinos oferecia uma alternativa viável.

Logo depois se veria que Doenitz tivera razão. Ao começar a guerra, os alemães não estavam em condições de travar um guerra naval eficaz com apenas alguns submarinos e três encouraçados de bolso. Não obstante, eles conquistariam algumas vitórias impressionantes nos primeiros estágios da guerra. O porta-aviões Courageous foi afundado no dia 17 de setembro e o encouraçado Royal Oak algumas semanas mais tarde. O Deusschland atacou navios mercantes no Atlântico norte e outro encouraçado, o Graf Spee, fustigou a navegação no Atlântico sul e no oceano Índico. A Marinha de Guerra britânica não conseguiu implementar ação efetiva contra os submarinos e contratorpedeiros que lançavam minas na costa britânica e, na verdade, nem mesmo notava o que estava acontecendo. Essa espantosa negligência foi apenas em parte compensada pela bravura das tripulações dos navios varredores de minas e pela espetacular caçada ao encouraçado Graf Spee pelos cruzadores Exeter, Ajax e Achilles, que terminou com o afundamento do navio alemão pela própria tripulação em frente a Montevidéu no dia 17 de dezembro de 1939.

A campanha na Noruega demonstrou alguns pontos fracos nas operações navais alemães. Era medíocre o trabalho de Estado-Maior e inadequado o de reconhecimento. Individualmente, os comandantes não gozavam de liberdade de ação suficiente, e o comandante da frota estava preso a ordens precisas dadas por Raeder. Hitler, além disso, tinha o hábito de ordenar a movimentação de navios de um lado para outro, com total desprezo pela estratégia global ou considerações táticas, Os alemães, no entanto, foram salvos do desastre pela incompetência ainda maior da Marinha britânica, cujas mensagens cifradas conseguiram decifrar.

A segunda fase da Batalha do Atlântico durou de junho de 1940 a março de 1941. Logo que a França foi derrotada, os alemães conseguiram construir abrigos para submarinos na costa do Atlântico, reduzindo em muito o tempo necessário parta chegar as suas áreas de operações. No dia 17 de agosto, Hitler ordenou guerra submarina total contra a Grã-Bretanha e, embora Doenitz só tivesse em média 12 submarinos em operação em qualquer momento, isso era suficiente para permitir-lhes operar em matilhas. A Marinha inglesa, preocupada com a defesa de seu território insular contra a ameaça de invasão iminente, era incapaz de fornecer defesa adequada à navegação mercante no vasto Atlântico.

Os alemães obtiveram alguns sucessos notáveis em 1940 e, se tivessem seguido os conselhos de Doenitz e se concentrado na construção de mais submarinos, poderiam ter realmente desferido um golpe muito sério nos britânicos. Hitler, porém, não se interessava muito pela Marinha de Guerra e preocupava-se mais com o planejamento da invasão da União Soviética. O Almirante Raeder continuava a ansiar por mais navios de superfície para ataques de surpresa, mesmo que se mostrassem um tanto decepcionantes. A batalha entre o Bismarck e o Hood e o Prince of Wales mostrou do que os marinheiros alemães eram capazes quando tinham uma oportunidade, mas os encouraçados jamais tiveram liberdade de ação de que necessitavam. Sendo tão poucos, os navios pesados eram muito vulneráveis, e o Bismarck só foi afundado porque irremediavelmente superado em número de inimigos. Não obstante, o encouraçados Scharnhorst e Gneusenau e os cruzadores pesados Scheer e Hipper mostraram-se muito eficazes contra a navegação mercante no Atlântico.

Os submarinos foram muito prejudicados por falta de reconhecimento aéreo. Só em janeiro de 1941 a Marinha de Guerra alemã passou a contar com o apoio do “Condor”, o Focke-Wulf 200 – um quadrimotor de longo alcance. Eram ideais para localizar comboios, mas uma vez que apenas dois aviões por dia poderiam ser usados, era muito pouco para constituir uma ajuda efetiva. Por essa altura, a ameaça de invasão passara e a Marinha de Guerra britânica podia reforçar as suas escoltas a comboios e concentrar-se na destruição dos submarinos. Em março de 1941, os alemães perderam cinco submarinos, com seus comandantes excepcionalmente experientes. Esse fato obrigou-os a transferir a área operacional da costa para a maior segurança no meio do Atlântico e começou assim um novo estágio na Batalha do Atlântico.

Entre junho de 1940 e março de 1941, os britânicos perderam mais de três milhões de GRT e os navios eram afundados mais rápido do que sua capacidade de repô-los. Esse fato causava grande preocupação, mas não era grave o suficiente para desorganizar a economia de guerra da Grã-Bretanha. Os alemães estimaram que teriam de afundar 750 mil GRT por mês a fim de pôr a Grã-Bretanha de joelhos, número-alvo que nunca foi atingido pelos submarinos. Em seu mês mais bem sucedido – novembro de 1942 – os submarinos afundaram 650 mil GRT. O Almirante Raeder, nesse momento, estava se convencendo de que a sua Marinha deveria concentrar-se na construção de submarinos e na derrota da Grã-Bretanha, antes de voltar-se contra a União Soviética. Hitler porém, acreditava que a derrota da União Soviética obrigaria a Grã-Bretanha a terminar a guerra e, por isso, recusou-se a fornecer à Marinha de Guerra os recursos de que necessitava para uma ofensiva submarina bem sucedida.

A terceira fase da Batalha do Atlântico, de abril a dezembro de 1941, caracterizou-se por crescente envolvimento dos EUA na guerra. A determinação do presidente Roosevelt de fazer tudo, “menos a guerra”, para ajudar os britânicos constituiu mais um a dor de cabeça para Doenitz, uma vez que Hitler insistia em que os norte-americanos não deveriam ser brindados com qualquer pretexto para entrar na guerra. Em setembro, A Marinha de Guerra dos EUA assumiu o comando operacional dos navios de guerra dos Aliados que escoltavam comboios no Atlântico ocidental, tornando-se, dessa maneira, aliada ativa da Marinha britânica. Hitler não reagiu a essa provocação e, na verdade, insistiu em que os navios americanos só fossem atacados na zona de guerra em torno das Ilhas Britânicas. Roosevelt fornecera aos ingleses 50 contratorpedeiros que não podiam ser distinguidos de seus irmãos ainda em serviço na Marinha norte-americana. A fim de evitar incidentes desagradáveis, Hitler deu instruções a Doenitz para evitar quaisquer ataques a esses contratorpedeiros, que figuravam entre os piores inimigos dos submarinos.

Submarinos isolados eram inúteis contra escoltas de comboio muito reforçadas e, a partir de agosto de 1941, eles passaram a caçar o inimigo em matilhas de 15 unidades. Tiveram sucesso imediato. Em princípios de setembro, 20 de um total de 63 navios do comboio SC 42 foram afundados ao largo da ponta sul da Groenlândia. Teriam conseguido êxito ainda maior se os ingleses não começassem a decifrar o código naval alemão “Hydra”, que lhes permitia ler as mensagens dos submarinos e, dessa maneira, desviar os comboios e dirigir ataques precisos contra as matilhas. Os petroleiros usados pelos submarinos para reabastecimento em alto-mar eram particularmente vulneráveis. Foram afundados em tal número que os alemães só puderam depender de sues petroleiros submarinos, as “vacas leiteiras”, que podiam transportar 720 toneladas de óleo diesel por uma distância de mais de 19.000 quilômetros.

No dia 17 de outubro, o contratorpedeiro americano Kearny foi avariado por um torpedo disparado pelo submarino U-568. Duas semanas depois, o contratorpedeiro Reuben James era afundado pelo U-552. Roosevelt aproveitou essa oportunidade para conseguir a revisão da Lei de Neutralidade de 1939 e ordenou que os navios mercantes norte-americanos fossem armados. Doenitz teria gostado de lançar um ataque preemptivo conta a Marinha dos EUA, mas foi impedido de agir assim pela situação cada vez mais ameaçadora no Mediterrâneo, que o obrigou a concentrar suas forças em vota de Gibraltar, o ataque japonês a Pearl Harbor constituiu uma surpresa completa para os alemães e, assim, impediu-os de lançar um ataque fulminante à costa leste dos EUA em dezembro.

Com o aperfeiçoamento da detecção por radar, o reconhecimento aéreo melhorado e as informações cada vez mais rápidas e exatas recebidas da Escola de Códigos de Cifras(GC e CS) do governo, situada em Bletchley Park, os navios de superfície alemães tornaram-se praticamente inúteis. Suas instalações portuárias na França eram também muito vulneráveis a bombardeios. O afundamento do Bismarck, do qual não participou a operação secreta “Ultra”, em maio de 1941, constituiu um golpe terrível para o prestígio naval alemão e daí em diante os navios pesados tiveram cada vez mais reduzido seu papel na Batalha do Atlântico.

Entre janeiro e julho de 1942, os submarinos conseguiram causar devastação entre as tripulações norte-americanas inexperientes em operações ao largo da costa dos EUA, e seu trabalho facilitado pela introdução de uma nova versão do “Enigma” em fevereiro, cujo código “Tritão”, os especialistas de Bletchley Park só conseguiram decifrar em dezembro,. Em agosto, foi introduzido o “Sistema Combinado de Comboios”, que aumentou em muito a eficiência da defesa e fez ótimo uso do reconhecimento aéreo e do radar. Essa operação ocasionou redução das perdas, que haviam atingido 600 mil GRT em julho. Nessa quarta fase da batalha do Atlântico, foi afundado em três meses um total de três milhões de GRT.

Leia mais sobre o Enigma

Na fase seguinte, de agosto de 1942 a maio de 1943, os submarinos concentraram-se em ataques no Atlântico norte, onde os navios ficavam fora do alcance de aviões de proteção. Os submarinos adotaram a tática de “passar o ciscador” no oceano, o que teve grande sucesso. Em dezembro, a “Ultra” estava mais uma vez fornecendo mensagens decifradas de comunicações pelo rádio entre os submarinos, de modo que os comboios puderam iniciar ação evasiva, o que salvou muitas centenas de milhares de toneladas de navios. Em março de 1943, porém, mais um tambor foi acrescentado ao “Enigma”, e “Ultra” não conseguiu mais, durante vários meses, fornecer qualquer informação. Entretanto, o Serviço Naval de Criptografia alemão conseguiu decifrar alguns códigos dos comboios aliados e, assim, pode descobrir mudanças de rumo. Em maio de 1943, porém a maré começou a mudar contra os submarinos alemães, quando dos 118 em serviço, 38 deixaram de retornar às suas bases.

Em 1942, os Aliados perderam um total de 7.699 mil GRT e só puderam construir 7.182 mil GRT. Ao mesmo tempo, os alemães estavam construindo submarinos mais rápido dos que os Aliados podiam afundá-los. No mesmo ano, Doenitz conseguiu 238 novos submarinos, dos quais 87 foram afundados – com um ganho líquido de 151. Em novembro, os ingleses criaram a Comissão de Guerra Antissubmarina, presidida por Churchill, a fim de discutir meios para combater a mais perigosa arma alemã. Na conferência de Casablanca, em janeiro de 1943, concordou-se em que a eliminação da ameaça dos submarinos constituía alta prioridade e precondição essencial para a invasão bem sucedida do norte da França.

Embora não houvesse dúvidas de que o sistema de comboios era o que melhor havia para proteger a Marinha Mercante, as opiniões divergiam se era também a melhor maneira de afundar submarinos.

Submarinos: Desenvolvimento

Desde a antigüidade, pensava-se em um submarino cuja invisibilidade seria uma arma formidável a ser usada nas batalhas navais. A tecnologia para a estanqueidade e o lastro não foi muito difícil de alcançar, mas como propulsionar o aparelho em imersão não foi conseguido senão a partir de 1880, combinando máquinas a vapor ou motores de combustão interna com as baterias e motores elétricos. Porém um longo caminho teve que ser percorrido, pois os motores a explosão eram inseguros, as baterias grandes, pesadas e fracas e as máquinas a vapor geravam demasiado calor para um caso de dimensões reduzidas.

Paralelamente havia que resolver outros problemas, como o da navegação, já que as bússolas ficavam descontroladas por estar cercadas por uma massa de ferro. Outro problema era o do armamento, uma vez que os explosivos tinham que ser colocados no casco do alvo.

O desenvolvimento de Robert Whitehead a partir de 1866, o torpedo, visava as lanchas rápidas ou mesmo outros navios pequenos a serem empregados contra grande navios. Mas foi o advento do torpedo que proporcionou armamento eficiente ao submergível. Mas as grandes potências industrializadas, no mostraram interesse pelo submarino, já que seria, em essência, a arma do mais fraco. Cem anos antes, o Ministro da Guerra da Grã-Bretanha declarava: “É um grande tolo aquele que, sendo o senhor dos mares, encorajar a criação de um meio de luta que não precisa e cujo desenvolvimento poderá lhe tirar a posição de mestre dos mares.”

As menores potências navais, tais como a França e a Rússia, interessaram-se pela projeto. Em 1906, a Marinha francesa já tinha encomendado mais de 90 submarinos. Mas coube ao irlandês Holland, radicado nos EUA, conseguir construir um submarino com desempenho aceitável, movido por motor a gasolina para desenvolver sete nós na superfície e seis nós de velocidade máxima mergulhado, mas por curto espaço de tempo. Sua autonomia atingia cerca de seis horas. A marinha norte-americana, depois de uma série de testes, encomendou 13 desses submergíveis para a defesa de sua costa.

Embora se opondo a arma de Holland, a Marinha inglesa decidiu testar alguns submarinos antes de 1906. Os aparelhos Holland, no entanto, apresentavam sérios problemas, uma vez, que devido à gasolina, muitos explodiram, o que veio representar um impacto negativo no desenvolvimento de tal arma. Os ingleses, julgando o tipo de submersíveis pequenos como um caminho inapropriado a ser tomado, chegaram a pensar na construção de unidades maiores e capazes de atingir 25 nós na superfície e armados com canhões de 305 mm.

Na época, a Alemanha, não mostrava o menor interesse por essa nova arma. O Almirante Von Tirpitz estava empenhado em construir uma armada poderosa: “Deve-se ter uma força duradoura de navios ofensivos porque o ataque é a melhor defesa.” E a sua força naval deveria se suficientemente forte para fazer frente a poderosa Marinha de Guerra britânica.

Em 1902 a tradicional indústria alemã Krupp, coube construir por conta própria o primeiro submersível alemão, a ser equipado com motores a querosene que eram menos perigosos que os motores a gasolina. Alguns dos submarinos da Krupp foram vendidos para a Rússia, Áustria, Itália e Noruega. Somente em 1906, a Marinha alemã recebeu o seus submersíveis. Tornando-se a última das grandes potências européias a fazê-lo. Mas os motores continuavam insatisfatórios, e, além das bússolas precárias, dos periscópios pouco desenvolvidos, as condições de habitabilidade eram deficientes e, a contragosto, a Marinha alemã encomendou entre 1908 e 1910, 14 submarinos da Krupp, as ser utilizados na patrulhas da desembocadura dos rios.

Não obstante, por este tempo, o desenvolvimento dos submarinos já era razoável. Eles tinham cerca de 500 toneladas de deslocamento, 60 metros de comprimento e quatro tubos lança-torpedos. E o tempo para imergir foi evoluindo de cinco a dez minutos para cerca de 30 segundos. A partir de então, os alemães buscaram com afinco um maior desenvolvimento para seus submersíveis, de modo que a Marinha Imperial encomendou 23 submarinos entre 1910 e 1912. Assim, até 1914 foram prontificados do U-1 até o U-28.

Quando a Primeira Guerra iniciou, os submarinos alemães já se encontravam em estágio de desenvolvimento bem superior as demais nações. E com base na experiência da guerra e com o advento dos motores diesel, os avanços foram se sucedendo, ou seja, a bússola giroscópica substituiu a magnética e a indústria ótica alemã construiu periscópios de muito melhor desempenho. De modo que os alemães puderam projetar o grande submarino de ataque, com uma tripulação de quase cem homens, quatro meses de autonomia e canhões de 150mm. Entretanto, não deixaram de produzir submarinos menores como os UB e os UV; mas neles incorporando os avanços dos maiores, com autonomia de quatro semanas.

Entre 1902 e 1904, a indústria européia fez sair de suas indústrias mais de 400 submarinos. Quando começou a Primeira Grande Guerra, a Marinha britânica contava como 76 submarinos; a França, vinha logo em seguida com 70; a Rússia por sua vez tinha 41 unidades; os EUA, 31 e a Alemanha, 26. Mas todos esses países tinham encomendas de mais submersíveis.

Cabe dizer que, apesar de todas as precariedades dos submarinos naquela época, havia o maior de todos de todos os óbices: as Convenções de Haia, que se aplicadas, derrubavam todas as vantagens dos submarinos quando utilizados na guerra de corso, com a intenção de bloquear os inimigos. Atribui-se ao Almirante John Fisher a assertiva de que embora desumano e bárbaro, não havia nada que o submarino pudesse fazer senão afundar o navio mercante interceptado, ao que Churchill retrucou que não acreditava que nenhuma nação civilizada o fizesse.

A crescente eficiência de comunicações e armamentos desde a Primeira Guerra Mundial deu certas vantagens aos submarinos no princípio da Segunda Guerra Mundial. Eles podiam ser enviados a operar em flotilhas nos bons campos de caça que haviam sido descobertos por reconhecimento aéreo ou por outros submarinos. Na segunda metade da guerra, o motor inventado pelo professor Walter e o tubo snorkel possibilitaram que os submarinos, durante semanas, se movimentassem embaixo da água numa velocidade bastante alta para surpreender os comboios. Suas armas também eram muito melhores; o torpedo silencioso movido a hélice e as minas magnéticas que provocaram considerável destruição na primeira metade da guerra eram formidáveis elementos que eles manejavam com toda a perícia.

As prioridades concedidas às construções de submarinos estavam longe de satisfazer às cotas pedidas por Reader e Doenitz. Tendo conseguido fabricar um excelente barco de guerra, o VIII-C Atlantik U-boat (770 toneladas, 12 torpedos, 18 nós, 15.000 milhas de cruzeiro), desde 1939, eles tentaram conseguir a sua construção em larga escala, mas Hitler insiste em acreditar que a guerra contra a Inglaterra será breve e que seus dois almirantes se estão precipitando. Eles pediram 850 submarinos. Esta cota é reduzida a 372 e a produção planejada, 25 unidades por mês, está longe de ser atingida. Para sorte dos ingleses, na primavera de 1941, o número de submarinos disponíveis é visivelmente o mesmo que quando do início das hostilidades. O aumento das perdas britânicas, que, de 320.000 toneladas em janeiro, em abril chegaram a 654.000 toneladas, deriva, essencialmente, do aperfeiçoamento das táticas e da crescente ousadia dos comandantes dos submarinos.

Em fins de 1940 e princípios de 1941 os alemães, disse Doenitiz, só possuíam dezoito submarinos de alto-mar; e desde que apenas um terço de uma frota de submarinos pode permanecer em áreas operacionais por algum tempo( um terço estava no país preparando-se para se fazer ao mar, o outro terço a caminho de várias zonas de batalha), seis e, às vezes, somente três submarinos estavam em ação contra o inimigo. Em outras palavras, 120 a 140 homens empenhavam-se ativamente na guerra naval contra a Inglaterra.

Se as primeiras vitórias dos submarinos eram desproporcionais ao seu número, o mesmo se pode dizer em relação às suas perdas. Houve mais submarinos afundados nos primeiros meses da guerra do que em qualquer outra época, mesmo quando as contramedidas aliadas tornaram-se mais eficientes, durante os tempos dos grandes comboios para a Inglaterra e para a Rússsia de 1943 a 1944. Esta proporção foi o resultado do pequeno número de submarinos em operação, comparada aos último anos.

Dentre os comandantes de U-boat, o primeiro a tornar-se célebre foi Gunther Prien. Seguem-se outros. Em dezembro de 1940, Schepke ganha as Folhas de Carvalho sobre sua Cruz de Cavaleiro por ter sido o primeiro a destruir mais de 200.000 toneladas de navios mercantes. Kretschmer ultrapassa-o, com 300.000 toneladas e 3 contratorpedeiros. Mas, no dia 8 de março, a base de Lorient chama inutilmente o U-47, comandado por Prien, cuja última mensagem assinalou um mergulho precipitado. No dia 17, o mesmo silêncio responde aos apelos enviados ao U-99, comandado por Kretschmer, e ao U-100, comandado por Schepke. Em nove dias, os três ases da força submarina de Hitler tinham chegado ao fim de suas carreiras. Prien, atacado pelas granadas do Wolverine, afundou com seu barco. Schepke, esporeado pelo Vanoc, foi esmagado entre a passarela e a proa do contratorpedeiro; Kretschmer, atirado ao mar no momento da abordagem do U-99 pelo Walker, foi feito prisioneiro.

Essas vitórias aliviaram os britânicos. Por outro lado, agravava-se a situação. O porto de Londres estava reduzido a um quarto de sua capacidade. A tonelagem das importações está reduzida à metade. Os estaleiros estavam sufocados por 2.600.000 toneladas de navios avariados. Febrilmente, eram construídas unidades de escota, corvetas reduzidas, e aperfeiçoavam-se todos os meios de luta contra os submarinos, mas os alemães também estavam aperfeiçoando os métodos de ataque. A tática dos lobos foi auxiliada pela entrada em ação dos quadrimotores Focke-Wulf 200, que efetuavam imensas patrulhas entre Brest e Bergen e cuja eficiência seria muito maior se Goering não ativesse negado a subordiná-los ao almirante Doenitz. Muitos comboios encontraram fim trágico. Atacado por sete submarinos, o comboio SC26 perdeu seis barcos. Atacado por 9 submarinos, o HX126 perdeu dez mercantes. A vida das tripulações dos navios mercantes, sobretudo da dos navios-tanques, que transformaram-se num pesadelo.

A guerra submarina recomeça à maneira de 1916. Reaparecem os comboios – rebanhos de navios conduzidos por um ou dois pastores, encouraçados ou cruzadores – enquanto contratorpedeiros, barcos armados ou corvetas, rondam em torno deles, como cães. Os submarinos representaram uma das maiores ameaças às linhas de navegação comercial. O poder de ataque do submarino reside sobretudo nos seus torpedos – recipientes autopropulsores de alto poder explosivo e que sofreram vários estágios de desenvolvimento. Durante todo o conflito, os alemães investiram na melhoria da qualidade técnica de seus submarinos, tanto quanto nas táticas de ação, ao contrários de seus parceiros do Eixo.

Itália e Japão, embora tivessem frotas de submarinos consideráveis, não empregariam de forma eficiente esse potencial, mesmo tendo entrado na guerra mais tarde, ou seja, com sua frota intacta e já conhecendo os problemas da guerra submarina. A Itália, além de considerar seus submarinos de qualidade inferior, sofreu com eles os mesmos problemas enfrentados por sua frota de superfície: despreparo e falta de convicção dos tripulantes, Já o Japão, se por um lado tinha motivação de sobra, seria, de outro, solapado pela inflexibilidade estratégica, que acabaria trabalhando em favor dos norte-americanos. Por considerar as operações contra navios mercantes como “defensivas”, os japoneses usaram seus submarinos quase exclusivamente contra as belonaves dos Aliados, embora fossem inadequados a tal finalidade. Dessa forma, as linhas de abastecimento dos Aliados no Pacífico e no Índico quase não foram molestadas, enquanto os submarinos norte-americanos afogavam o Japão com bloqueios que pareciam não ser notados pelo Eixo. Isso custava caro às forças nazi-fascistas; na tentativa de atingir seus objetivos, elas perderiam mais de 950 submarinos em ação, além de muitos outros por causas diversas.

Durante os processos movidos em Nuremberg, após o término da guerra, contra os almirantes Doenitz e Reader, chegou-se às seguintes conclusões quanto à legalidade da guerra submarina: ser lícita essa guerra, sem restrições; os navios mercantes armados são assimilados aos navios de guerra a que é permitida qualquer ação contra eles; que os navios mercantes, armados ou não, nas zonas declaradas de guerra podem ser afundados sem prévio aviso; que os navios neutros não podem ser atacados, em qualquer parte do mundo, desde que não se recusem à visita ou pratiquem atos de assistência hostil.

Os submarinos do Eixo

O fator que permitiu aos EUA lutar simultaneamente na Europa e no Pacífico, e que garantiu a sobrevivência do Reino Unido, foi a ação ininterrupta da Marinha Mercante. Se as eventuais perdas de embarcações de combate podiam causar problemas, o afundamento de navios mercantes trazia conseqüências desastrosas. Sabia-se que os aliados não podiam permitir que o número de navios perdidos superasse o dos construídos por um período significativo, pois isso fatalmente reduziria sua capacidade de continuar a guerra e acabaria levando-os à capitulação.

Os alemães sabiam – desde a Primeira Guerra Mundial – que os submarinos constituíam o meio mais eficaz para interferir nas rotas de abastecimento do inimigo; entretanto Hitler não destinou mais recursos para construí-los já no final da década de 30. Os poucos submarinos disponíveis, ainda assim, causaram grande transtorno à Marinha Mercante dos Aliados.

A tática de se combater submarinos

Durante a guerra os alemães geralmente mantinham operando no mar um média de 52 submarinos. Para combater esse poucos submarinos os Aliados tiveram de empregar um contingente de homens significativo e 25% do esforço científico total.

A tática de combater os submarinos era manter um patrulhamento aéreo constante do litoral, de forma a obrigá-los a permanecer mergulhados, consumindo a carga de suas baterias e navegando com velocidade reduzida.

Nessas condições, eles tinham de afastar-se para áreas não patrulhadas, onde pudessem vir à superfície para carregar as suas baterias, além de conceder o necessário descanso às guarnições.

Mas, o desenvolvimento dos aparelhos de detecção submarina, o sistema de comboios e o patrulhamento aéreo, levaram os alemães a atacar os navios com os submarinos em grupos, ou melhor, aplicando a chamada tática da “alcateia de lobos”, em que os submarinos torpedeavam na superfície empregando o radar para a pontaria, quer de dia ou de noite. Sobre essa tática, disse o Almirante Doenitz: “A uma concentração de navios, só uma concentração de submarinos”.

A essa tática os Aliados replicaram com um intenso e seguro patrulhamento aéreo das áreas navegadas, o que dificultava a concentração dos submarinos e veio demonstrar que “o maior inimigo do submarino era o avião”.

Foram, então, os submarinos obrigados a operar no centro do Atlântico, fora do alcance dos aviões com base em terra, e a voltar a tática antiga do ataque em imersão com pontaria pelo periscópio. Ainda o meio empregado para dificultar os ataques dos submarinos foi dotar cada comboio de pequenos navios-aeródromos, surgindo daí os do tipo “escolta” (NAeE), geralmente resultantes da adaptação de navios petroleiros construídos em série, onde operavam cerca de duas dezenas de aviões, que mantinham um constante patrulhamento aéreo durante toda a travessia dos comboios.

Sendo a velocidade dos comboios, no máximo, de 13 nós e a velocidade máxima do submarino em imersão de 9 nós, conseguia-se a sua proteção com patrulhamento aéreo da sua vanguarda e com a escuta submarina da escolta. A reação alemã consistiu não só na volta aos ataques individuais, mas também no emprego de torpedos acústicos cuja contramedida, logo aplicada pelos Aliados foi o “roncador” (aparelho FXR), que os navios levavam rebocados pela popa para produzir maior ruído que os dos hélices, desviando, portanto, a trajetória dos torpedos.

Por outro lado, a difusão do radar impedia que os submarinos alemães, mesmo durante a noite, viessem à superfície para carregar os seus acumuladores de energia; eram eles logo detectados e atacados. Para evitar isto, os alemães imaginaram o Schnorckel (snorkel, em inglês), uma espécie de tubo duplo por um dos quais era aspirado o ar da atmosfera e pelo outro descarregado os gazes da combustão dos motores diesel. Conseguiam assim manter os submarinos em imersão e os motores de propulsão diesel em funcionamento. Dessa forma era possível carregar as baterias, navegar em imersão de noite ou de dia e por um longo tempo, com velocidade superior à conseguida com os motores elétricos porém o perigo de detecção pelo radar continuou se bem que em menor amplitude. É preciso notar que um submarino com Schnorckel navegando com menos de 6 nós não fazia muita espuma nem deixava esteira forte, dificultando, portanto, os seus vestígios a ser percebidos pelos aviões de patrulha ou navios de superfície inimigos. A alta velocidade do submarino em imersão, facilitava a aproximação, isto é, tomar posição favorável para o ataque; era essa a principal vantagem do sistema Schnorckel.

Asdic ou Sonar?

Desse dispositivo tinham conhecimento os alemães, graças à vasta publicidade feita entre as duas guerras. O “ping” contra o casco, emitido pelo dispositivo antissubmarino dos Aliados, era um ruído terrível para os submarinistas alemães, pois informava que o submarino fora localizado O nome Asdic era formado com as iniciais da Allied Submarine Detection Investigation Committee (Comissão Aliada de Investigação e Detecção de Submarino), que o desenvolvera em 1917. Os norte-americanos os chamam de “Sonar” (Sound Navigation Ranging).

Esta valiosa ajuda para destruir submarinos empregava um sistema semelhante ao que o morcego usa para orientar-se. O navio emitia um sinal que, se atingia um objeto submerso, era refletido e captado por um receptor. O tempo que o sinal gastava para cobrir o caminho era calculado para dar a distância a que o objeto se encontrava. Quanto maior o intervalo, maior a distância. O “cone” do sinal podia girar trezentos e sessenta graus e o operador do Asdic passava horas “varrendo” ao redor do navio. O cone pontilhado dava uma ampla área de busca e, uma vez localizado o submarino, os dois cones mais estreitos determinavam a sua posição com mais precisão, e esta informação era transmitida à ponte de comando, para efetuar a ação. Em outras palavras, o Asdic consistia de um transmissor-receptor colocado dentro de uma cúpula, no fundo de um destroier. No seu núcleo ficava um cristal de quartzo que, quando se lhe aplicava uma corrente elétrica alternada, oscilava e emitia ondas sonoras pela água que, ao atingirem qualquer objeto, eram refletidas e captadas pelo receptor, denunciando a presença dos submarinos. Movendo lentamente e traçando os ângulos de direção do ping repetido, o operador podia precisar com segurança a direção e a distância do objeto detectado, dando ao destroier condições de desfechar o ataque. Duas desvantagens do aparelho davam aos submarinos possibilidade de escapar. Primeira desvantagem: o contato, por meio do Asdic, com o submarino só era possível dentro de certa distância. Quando o destroier se aproximava o suficiente para lançar cargas de profundidade, perdia-se o ping, e só por adivinhação o destroier chegava à posição exata dos submarino. Isto requeria dizer que, se movesse com rapidez suficiente, o submarino poderia escapar ao peso principal do ataque. Segunda desvantagem: os primeiros Asdics não davam indicação da profundidade do obstáculo, em torno da qual eram feitas estimativas. Além dessas desvantagens, somava-se os problemas causados pela presença de cardumes de peixes, mudanças na temperatura da água e perturbações que muitas vezes faziam o Asdic dar alarmes falsos, mas, sem ele, a guerra submarina teria tido um clímax muito diferente.

Para os submarinistas, como consequência do seu próprio ataque, registrava-se com frequência um terrível dueto das máquinas dos destroier e do seu Asdic, primeiro o ruído das máquinas, quando o navio passava acima deles, depois o ping do Asdic, quando este travava contato com o casco do submarino, e novamente as máquinas, quando o destroier se locomovia para fazer outra sondagem mais precisa. Finalmente, a explosão. Se a carga de profundidade fosse lançada com precisão, a tremenda força dos explosivos, aumentada pela concentração das ondas de choque sob as águas, fazia o submarino arfar e guinar como se estivesse em meio a forte tempestade. Era quase certo, então, que ele estivesse a caminho do fundo do mar. Só muito raramente conseguiam os submarinistas fazer subir o barco, depois de atingido, e se jogar ao mar. Quase sempre o túmulo do submarinista era o submarino. A água inundava o submarino, enquanto este era esmagado à medida que atingia profundidades que seu casco de pressão jamais poderia resistir, ou então ficava no fundo até acabar o oxigênio. Atirar-se ao mar, nadar até uma balsa e ser recolhido pelo inimigo e ser levado para um campo de prisioneiros, era o destino de poucos submarinistas alemães.

Cristal de quartzo

Durante largos anos o quartzo, quando absolutamente hialino, era apenas utilizado nas lentes, nos aparelhos de física e de química; quando colorido, tinha emprego na joalheira, na confecção de joias, pedestais de estatuetas, etc.

A Segunda Guerra Mundial trouxe-lhe numerosas aplicações industriais, tornando-o matéria prima estratégica da mais alta importância. Depois de convenientemente cortados e polidos, os cristais de quartzo gozam da propriedade de oscilar, de acordo com um comprimento de onda fixo, controlando, assim, a frequência dos radiotransmissores.

Nos milhares de aviões aliados, o quartzo brasileiro prestou relevante concurso, pois era absolutamente indispensável aos aparelhos radiotransmissores. E como produtor de ultra-sons, o quartzo representou importantíssimo papel na guerra antissubmarino.

As nossas principais jazidas, achavam-se situadas nos municípios de Colatina, Pedro Afonso, Ipameri, no Estado de Goiás, e Sete Lagoas, Buenópolis, Diamantina e Campo Belo no Estado de Minas Gerais.

Os cristais eram cuidadosamente selecionados e classificados com auxílio da polaroid, que vinha apontar todos os defeitos internos. Segundo a qualidade, os cristais eram distribuídos em classe – A,B,C e D. Os da classe A são extremamente raros, sendo encontrados na pequena proporção de 1 para 25.000.

Durante a guerra, em cinco anos (1941-1945), a exportação de quartzo brasileiro, em valores da época, produziu 1 bilhão de 70 mil cruzeiros, com valor unitário médio de 160 cruzeiros para o quilo.

Fonte: Elísio Gomes Filho, pesquisador, escritor e mergulhador

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